Pesquisar este blog

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A Nova Religiosidade



Ao fazer uma pesquisa do significado lexical dos conceitos de religião e religiosidade, percebe-se que aquela pode ser compreendida como uma manifestação exterior e institucional desta. O primeiro termo está ligado ao serviço, ao culto, ao rito, ao sistema de crenças, ao dogma, à moral (sistema ético), à obrigação, ao temor que se deve; podendo ser expresso de forma externa e interna. O segundo, por sua vez é definido de forma estritamente subjetiva.

O vocábulo religião tem sido cada vez mais relegado, e religiosidade cada vez mais acolhido. Este é um fenômeno que tem de ser devidamente considerado neste estudo, a fim de que se compreenda mais a nova religiosidade. Tal compreensão demanda igualmente uma percepção clara das tendências culturais do presente tempo.

UMA OUTRA ESPIRITUALIDADE

De uns dez anos para cá tem sido cada vez mais comum se falar em "outra espiritualidade". A expressão é um claro sintoma de que as formas institucionalizadas de religiosidade estão cada vez mais falidas. O motivo? As mazelas humanas. O exemplo vem de um artigo de Ed René Kivitz
em que o autor aborda o clássico O Monge e o Executivo.

Não concordo com tudo o que Kivitz fala. Mas a abordagem crítica que o mesmo faz aos vícios da relaçãoes pessoais é pontual. Segundo este autor os bastidores da "empresa eclesiástica" não diferem muito da selva das empresas mundanas. Ele chega ao ponto de afirmar que uma reunião de presbitério escandalizaria tais consultores. É dispensável a afirmação de que Movimentos como Caminho da Graça e Os deseigrejados são resultado deste desgaste, que é pessoal e institucional.

A espiritualidade que é buscada atualmente é mais pessoal, íntima, e ou subjetiva, livre do controle de instituições. Logo, ser, por exemplo, presbiteriano, não mais significa estar preso a este, ou aquele credo (conjunto de crenças). O mesmo se pode dizer de ser pentecostal (alias, o que é isto mesmo?). Há fieis no primeiro caso que são arminianos e no segundo que se identificam com a Teologia Reformada [aqui].

Católicos carismáticos, Papa com pensamento quase que Reformado. Alias o atual pontífice romano é um caso bem interessante. Jesuíta por ordem Jorge Mário Bergolio após ser eleito escolhe o nome de Franciso, o que demonstra sua clara identificação para com a causa franciscana. Mais do que isto, ele incorpora o ideal franciscano [aqui].

Se Você acha que já viu de tudo, há também a Igreja dos sem Religião [aqui]. Composta por gente que se reúne para celebrar a vida e cantar canções. Sim, as pessoas querem espiritualidade, experiências transcendentais. De acordo com Stott e Shaeffer a busca por experiências com drogas revela que as pessoas querem contato com a transcedência. Tudo isto são novas formas de espiritualidade que estão sendo propostas.

NOSSO DESAFIO

O desafio do crente na atualidade consiste em responder de forma relevante ao mundo como a proposta da espiritualidade bíblica pode ser relevante e consistente mesmo em um contexto cuja definição é a ausência de valores, a quebra da autoridade, e a ênfase no subjetivismo. 

Face ao exposto a primeira questão a ser tratada é que não há, de fato verdadeira religião sem atitude exterior. É claro que ao fazer tal afirmação, considero que "Deus olha o coração", para o íntimo do homem, ao invés de para a aparência do mesmo. Mas desconsidero totalmente uma religiosidade cuja expressão se resume "ao sentimento de dependência do que é absoluto".
Em Rm 1. 9 Paulo afirma prestar um culto em seu espírito. Todavia este mesmo culto ganha contornos exteriores ao se expressar por meio de dois importantíssimos serviços: a pregação do Evangelho e a oração do apóstolo pelas cominudades que havia fundado, bem como pela de Roma, que ele sequer conhecia. Há outro texto que ao meu ver é um perfeito encontro da objetividade com a subjetividade. 

Rm 12. 1 o mesmo apóstolo pede aos crentes que apresentem a totalidade do seu ser (este é o sentido da expressão σωματα [soomata] aqui), como sacrifício a Deus. Este é o culto. O mesmo tem de ser oferecido a partir de uma mentalidade renovada (Rm 12. 2). Todavia não prevalece a pura e simples subjetividade. O culto ganha a sua expressão em serviços comunitários (Rm 12. 3 - 8). 

A espiritualidade sadia traz o desefio de relacionamentos pessoais, tanto na esfera vertical [do homem com Deus, e deste para aquele], quanto na esfera horizontal (entre os homens em geral). Não há religiao cristã, sem relacionamentos. 

Não é sem razão que as religiões orientais crescem justamente no momento em que as pessoas mais se divorciam e menos se relacionam pessoal e interpessoalmente. Relacionar signicia sofrer em termos práticos, e em mundo cuja filosofia é a busca do prazer a todo o custo e a máxima eliminação do sofrimento uma religiosidade mais comtemplativa e mais silenciosa é infinitamente mais sedutora [até mesmo para cristãos]. 

Todavia estas mesmas religiões partem do pressuposto de que a "personalidade" é uma ilusão, tal como o mundo que nos circunda. Ambos são emanações de uma divindade chamada Brahma, que está sonhando com o mundo e com uma infinidade de deuses. O Budismo sequer possui "deus", ou "deuses". Em algumas formas deste, buda é o seu deus. Somente o cristianismo vai na contramão desta onda. 

Frequantemente encontro com crentes que devido a alguma decepção se afastaram da congregação. Eles apresentam um discurso de que "Igreja somos nós", e concordo. Sim, "IGREJA SOMOS NÓS" em comunidade, em comunhão. Como sucessivas vezes disse Stott, a meditação de um cristão é com o olhar para fora, pois ele acredita que a natureza revela a glória e a majestade de Deus, ao passo que a meditação de um oriental é para dentro (reflexo da crença de que o mundo não é real). 

NOSSA PROPOSTA

A proposta evangélica pode e deve ter lá seus teores de subjetividade sim, mas terá no testemunho e na prática da oração. Também terá dimensões cominitárias. Tal envolve séria revisão do modo altamente institucional de ser igreja ao longo da história. Alias, há que se resgatar o sentido bíblico deste termo (que nada tem a ver com prédios e edifícios), mas com comunidade. 

Não se trata também de todo e qualquer ajuntamento comunitário. Jesus disse a Pedro: sobre esta pedra edificarei a minha Igreja (Mt 16. 16 - 18). A Igreja não é um prédio, mas um grupo de pessoas, uma assembléia. Este é o sentido de εκκλησιαν [ekklesian]. Jesus não morreu por templos, CNPJ's, denominações, mas por pessoas (Ef 5. 25, 26). 

A Igreja não é um projeto humano, mas divino. Assim como os blocos de pedra, ou de tijolos são unidos de forma a formar um edifício, os crentes são unidos uns aos outros até que se tornem morada de Deus no Espírito (Ef 2. 18 - 20; I Pe 2. 5). Isto não é, e nem pode ser um projeto humano, visto que somente Deus por Cristo e por seu Espírto podem levar o mesmo a consecução. 

A Igreja é edificada sobre a crença de que Jesus Cristo é Messias, o Filho do Deus Vivo. O ponto de contato, ou seja a liga entre um bloco e outro de pedra é Jesus. Shows agregam, aglomeram, mas não unem e nem dão liga entre pessoa e pessoa. Se Jesus não está entre as pessoas, permeando relacionamentos não há "COMUNIDADE". Mas se ELE estiver além de comunidade há vitórias sobre os desafios que a convicência traz. 

Esta é a proposta bíblica. Nosso desafio é demonstrar comunitariamente que ela é viável. Novas formas de Igreja são, em parte, modos de responder a esta demanda, cada vez mais atual. E a recomendação bíblica é que o mundo nos veja desta forma (Fp 1. 29; 2. 14 - 16). 

Em Cristo. Marcelo Medeiros. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradeço o seu comentário!
Ele será moderado e postado assim que recebermos.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Créditos!

Por favor, respeite os direitos autorais e a propriedade intelectual (Lei nº 9.610/1998). Você pode copiar os textos para publicação/reprodução e outros, mas sempre que o fizer, façam constar no final de sua publicação, a minha autoria ou das pessoas que cito aqui.

Algumas postagens do "Paidéia" trazem imagens de fontes externas como o Google Imagens e de outros blog´s.

Se alguma for de sua autoria e não foram dados os devidos créditos, perdoe-me e me avise (blogdoprmedeiros@gmail.com) para que possa fazê-lo. E não se esqueça de, também, creditar ao meu blog as imagens que forem de minha autoria.