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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Nova Polêmica envolvendo Rachel Sheherazade

 
Não faz sequer uma semana que postei aqui uma critica ácida à hipocrisia social, que produz a lógica dos dois pesos duas medidas. Me espanto diante da revolta e da comoção nacional, bem com da ênfase excessiva que a mídia dá à violência contra o menor, que não é qualquer tipo de menor, mas especificamente um menor infrator. Embora reconheça que mesmo estes tem seus direitos garantidos na constituição, me pergunto porque tamanho comprometimento social (se é que possamos chamar assim com a causa da violência contra os mesmos), e a ausência da mesma quando um trabalhador, um representante do Estado, é igualmente vitimado. Confesso que fico estupefato diante de tal contradição. Expus meu espanto aqui.
Volto a este assunto após a polemica suscitada pelo comentário de Rachel Sheherazade, jornalista do SBT ao fato relacionado com a exposição e vexação pública do menor que sob pretexto de o mesmo estar cometendo furtos e outros delitos em uma área nobre do Rio de Janeiro. A jornalista em tese disse mais que o obvio, no lugar de prestar queixa contra os seus agressores, o menos preferiu fugir, ação plenamente compreensível se observarmos que o mesmo já tem passagens na delegacia. O motivo? furtos.
O comentário da jornalista, é que ação dos agressores é compreensível dada à realidade da violência, a omissão e ineficiência do estado frente às ondas crescentes de criminalidade, este é o resultado mais do que esperado. Minha citação embora seja uma paráfrase expõe a compreensão mais do que obvia das palavras da jornalista. Ainda que ao final do vídeo ela tenha caído em desgraça quanto ao comentário, no total esta é a essência da opinião da jornalista.
Embora não concorde em tudo com o que Rachel Sheherazade fale em seus comentários, entendo que neste em particular ela errou apenas quando disse que a ação dos agressores que amarraram o menor era justificável, ao passo que o termo correto é compreensível, e passo a explicar o porquê. Sabemos que a natureza humana é ambivalente. Ao mesmo tempo em que é capaz de praticar ações nobres, o ser humano traz em si o potencial para a igualmente cometer os atos mais hediondos. Como cristão que sou acredito nesta ambivalência e mais ainda afirmo o caráter paradoxal do ser humano. Neste paradoxo não há necessariamente preto e branco, mas zonas cinzentas. Em termos práticos, sabemos o que é a justiça, mas o nosso senso de justiça pode ser maculado, distorcido e na aplicação da mesma (o que em si é uma usurpação, visto que no estado de direito a aplicação das penas é uma atribuição exclusiva do mesmo). Mas o mesmo pode ser dito do menor, que para sobreviver apela ao furto. Conclusão, violência gera violência! Ainda que a ação seja ilegítima, não se faz necessário um QI elevadíssimo para entender que ela é mais do que natural, do contrario sequer teríamos leis que coibissem tais ações. Foi com esta ótica que li e entendi o comentário da jornalista. Creio que não seria difícil à assessoria de imprensa do referido canal fazer tal alegação, mas no lugar de explicar, os diretores tiraram o corpo fora.
Gostaria de extrair algumas lições do fato. Em primeiro lugar, já não é de hoje que Rachel Sheherazade é tachada de reacionária, ultraconservadora, fascista, elitista, escravocrata (veja alguns comentários neste artigo aqui). Embora não concorde com tudo o que ela fale, e ainda, entenda que boa parte de suas opiniões são rasas, logo destituídas de profundidade, reconheço que uma coisa é apontar a superficialidade, os lapsos, conforme feito acima; ou as idiossincrasias em seus comentários, outra é estereotipar a apresentadora simplesmente pelo fato de sua opinião não se coadunar com a aquilo que Pondé chama de praga politicamente correto. Infelizmente a estereotipia tem sido a arma mais recorrente dos ditadores da praga PC. Pior do que isto somente o suposto caso de um professor universitário, ou de alguém usando a sua conta no twitter, que desejou que ela fosse abraçada por um tamanduá após ser estuprada.
Segundo, fatos como este trazem á tona, que a despeito de nossa constituição garantir a liberdade de expressão a logica que rege as nossas conversações ainda é profundamente marcada pelo legado histórico da ditadura. É proibido, mas expressamente proibido pensar diferente, do contrario, nos iremos estereotipar você. Infelizmente é esta a mensagem que leio em todos estes acontecimentos. É a intolerância dos defensores da tolerância e a ditadura dos autocratas que se ocultam atrás do discurso pró liberdade.
Terceiro, me enojo diante da vitimização que se faz á figura de menores infratores tal como no caso do que fora amarrado. É como se ninguém soubesse que inúmeros jovens que ingressam no trafico, bem como em outras modalidades de crime, estão com sua sina selada. Qual? a de uma morte prematura! E sabe o que me espanta? A desconfiança de que algum sociólogo percebeu isto, fez algum trabalho sobre o tema, mas que, nem de longe, ganhou repercussão na mídia. O bando que amarrou o menor em um poste não pode ser tratado como heróis à moda Charles Bronson, e nem o menor como vítima do bando. Ali ambos são algozes, são feras, cada um á sua maneira, mas é isto que são. Sei que estou indo na contramão da cartilha do politicamente correto, mas o menos infrator é tão vítima da sociedade quanto cada um de nós o é. A diferença é que alguns escolhem o caminho do estudo, outros prestam concurso para algum cargo público, alguns valentes tentam conciliar vida acadêmica e profissão, outros escrevem, e assim vão aprendendo a viver de modo a demonstrar o valor de ideais nem sempre compreendidos e aceitos por nosso sociedade tão complacente.
A condescendência é definida como sendo a atitude de uma pessoa que concorda com alguma coisa fazendo sentir que poderia recusar. É esta a suspeita, quase improvável que tenho comigo. Creio que na verdade todos se recusam a aceitar o estilo de vida delinquente, mas por alguma razão que desconheço, quando este colhe o que plantou, todos são transigente com a atitude do mesmo. Enquanto isto outros tipos de violência vão sendo mais do que naturalizados.
Encerro este post com a reflexão a respeito da frase: adote um menor infrator. Creio que ela feriu mais ainda por ter esfregado na nossa cara, a nossa impotência diante de tais mazelas sociais. Temos muito assistencialismo, mas pouca assistência social. A diferença entre ambos é que o primeiro é uma medida que visa aplacar a crise de consciência dos que de alguma forma se entendem como reesposáveis (diretos, ou indiretos) pela criação de feras que furtam e feras que fazem justiça com as próprias mãos. Este é o caso dos nossos corruptos, por exemplo. O segundo caso é a intervenção direta nos fatores sociais e econômicos que produzem a marginalidade. Honestamente, vivemos em uma sociedade cada vez mais individualista, e via de regra ninguém quer pensar sobre isto. E os poucos que pensam são excelente na analise do problema e deficientes em apontar soluções. Este é o caso, por exemplo, de quem afirma que isto (ultrajar e agredir um menor infrator) não se pode fazer. É claro que não! Mas o que você sugere? Uma dica, culpar a Rachel Sheherazade não vale.
 
Marcelo Medeiros

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