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sábado, 22 de fevereiro de 2014

Moisés, sua liderança e seus auxiliares

 
Atualmente a liderança é compreendida como sendo a capacidade de influenciar as pessoas por meio do exemplo. Trata-se de envolver as pessoas em uma missão e proposito. Este conceito é moderno, e tem sido defendido por James Hunther em seu clássico O Monge e o executivo. Curioso, é que ele afirma tanto neste livro, quanto no As lições do Monge e do Executivo, que suas ideias são revolucionárias, e atuais, mas não são novas, uma vez que o modelo de liderança que ele defende pode ser visto em personagens antigos, tais como, Sócrates, Platão e Jesus Cristo. Hoje veremos como esta liderança se manifestou na pessoa de uma dos maiores exponentes do judaísmo, Moisés.

I ) O caráter e a disposição do líder
Então o Senhor desceu numa coluna de nuvem e, pondo-se à entrada da Tenda, chamou Arão e Miriã. Os dois vieram à frente, e ele disse: "Ouçam as minhas palavras: Quando entre vocês há um profeta do Senhor, a ele me revelo em visões, em sonhos falo com ele.
Não é assim, porém, com meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa (Nm 12. 5 - 7 NVI).
Moisés foi fiel como servo em toda a casa de Deus, dando testemunho do que haveria de ser dito no futuro (Hb 3. 5 NVI). 
Em ambos os textos se afirmar duas verdades a respeito de Moisés, e que se constituem como qualidade essenciais dos que pretendam exercer cargos de liderança.  Em primeiro lugar, Moisés é chamado de servo, em hebraico a expressão é עַבְדִּ֣י (ebed), que será traduzida pelo autor da carta aos Hebreus por θεραπων (therapon), cujo sentido é o de um servidor, um atendente. Ao contrario do que ocorre, por exemplo com a expressão δουλος (doulos), θεραπων pressupõe o exercício de um trabalho livre e honroso. Tal indica que ele via em sua chamada algo digno e honroso. De sorte que não existe líder sem tais prerrogativas, uma imagem de seu trabalho como o ato da verdadeira liberdade, e como expressão de honra ao nosso Deus.
Em segundo lugar, se diz que Moisés era fiel. Aqui temos a ocorrência de dois termos no grego a palavra é πιστος (pistós), e é usada na LXX para traduzir נֶאֱמָ֥ן (ne'muna), que procede de אָמַן ('ãman), um termo que indica fidelidade, firmeza, estabilidade. São prerrogativas que um líder tem de possuir, a fim de que o mesmo seja plenamente bem sucedido no cumprimento de sua missão. Todavia,  אָמַן ('ãman) não é uma característica humana, mas procede da ação de Deus.
Outra qualidade apontada em Moisés, é a sua mansidão, que algumas versões traduzem por humildade, e que na Nova Versão Internacional, é traduzida por paciência. O termo hebraico  é עֲנָוִ֗ ('anaw), e abrange todos estes sentidos (Nm 12. 3).  עֲנָוִ֗ ('anaw) é a raiz do termo hebraico עֲנִיֶּ֛ ('ani), cujo sentido é do pobreza (Dt 15. 11). O pobre em Israel era aquele que não possuindo terra para trabalhar vivia em total estado de indigência, podendo vir a mendigar. Daí a estrita dependência que estes tinham de Deus (aqui). Visto sob este prisma, a humildade e mansidão constituem-se nas mais difíceis virtudes de se cultivar em um líder, visto que a ênfase carismática inevitavelmente o conduz a confiar em suas potencialidades. 
 
II) A necessidade de auxiliares
 
O texto de Êxodo 18 nos mostra que Moisés se assentou para julgar o povo, e que ao atender a cada um ele levou um expediente que durou da manhã até a tarde. O termo para julgar aqui é לִשְׁפֹּ֣ט (shepat), palavra que indica o exercício da função de juiz, mas que não pode ser confundida com o magistrado atual, uma vez que no contexto bíblico a resolução das questões envolve a consulta a Deus e o ensinamento ao povo dos estatutos e juízos de Deus. Isto se evidencia na resposta de Moisés ao seu sogro, quando este lhe perguntou o que fazes? E ele disse: O povo me procura para que eu consulte a Deus. Toda vez que alguém tem uma questão, esta me é trazida, e eu decido entre as partes, e ensino-lhes os decretos e leis de Deus (Ex 18. 15, 16 NVI).
O problema consiste em que com o passar do tempo auxiliares se tornaram necessários. Uma vez que a centralização das funções na pessoa de Moisés se tornou um peso tanto para este quanto para o povo. Quando tal ocorre, surge então a necessidade de delimitar aquilo que cabe somente ao líder e aquilo que ele pode delegar aos demais para que os mesmos exerçam.
O conselho que Jetro deu para Moisés requeria que o mesmo: 1) continuasse a representar o povo diante de Deus (Seja você o representante do povo diante de Deus e leve a Deus as suas questões [Ex 18. 19 NVI]); 2) Os ensinasse os estatutos e leis do Senhor (Oriente-os quanto aos decretos e leis, mostrando-lhes como devem viver e o que devem fazer [Ex 18. 20 NVI]); 3) levantasse novos líderes que o auxiliassem em questões menores, e lhes trouxessem apenas as mais graves (escolha dentre todo o povo homens [Ex 18. 21 NVI]). Todavia, ao se nomear auxiliares, critérios se tornam necessários.
 
III) Critérios na escolha de líderes (auxiliares da liderança)
Mas escolha dentre todo o povo homens capazes, tementes a Deus, dignos de confiança e inimigos de ganho desonesto (Ex 18. 21 NVI).
Os homens a quem Deus manda escolher tem de serem capazes. Habilidosos, inteligentes, estando em condições legais para exercer validamente certos direitos. Mas esta habilidade não se restringe ao aspecto técnico da questão, uma vez que o termo חַ֜יִל (hayil) também é empregado para descrever os valentes soldados (I Cr 8. 40),indicando com isto que  חַ֜יִל (hayil) também pode expressar a força necessária a um soldado (Jz 18. 2; I Cr 26. 30). Esta mesma força é descrita como oriunda de Deus, que nos capacita para batalha. No caso do líder esta força, se expressa na capacidade de influenciar por meio do exemplo moral e de manter o mesmo em meio às adversidades.
Outra qualidade do líder é o temor reverente, descrito por meio do vocábulo יִרְאֵ֧י (yâre). Os líderes que iriam auxiliar a Moisés teriam de lidar com o poder, e com a possibilidade de corrupção que este mesmo poder desperta. Somente o temor de Deus poderia lhes dar o poder de superar as propostas de corrupção. Afinal Pela misericórdia e verdade a iniquidade é perdoada, e pelo temor do Senhor os homens se desviam do pecado (Pv 16. 6 ARCF). Chave neste conceito é o termo temor do Senhor (Yir'ah Yahweh [ יִרְאַ֣ת יְ֭הוָה]). O líder tem de ser temente a Deus.
Digno de confiança, é a expressão empregada pela NVI para traduzir o termo homens de verdade (אַנְשֵׁ֥י אֱמֶ֖ת [ish emeth]). Por sua vez a expressão אֱמֶ֖ת (emeth), tanto indica verdade como fidelidade, podendo ser traduzida por homens fieis. em outras palavras, dentre o perfil de um líder, tem de constar que o mesmo possa ser uma pessoa em que as outras possam se fiar. O termo אֱמֶ֖ת (emeth), nos remete ao termo אֱמָנִ֑ ('aman), aplicado a Moisés, para descreve-lo como servo fiel em toda a casa.
Por último, o homem que visa o seu bem- estar, e em função de ser mais amigos dos deleites do amigo de Deus não pode exercer a liderança, visto que diante de Deus o mesmo sempre será reprovado. Quem ama ao dinheiro nunca se farta do mesmo (aqui e aqui). Minha oração é que Deus nos ajude a preencher este perfil de líder descrito na Bíblia.
 
Em Cristo, Marcelo Medeiros

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