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sábado, 14 de janeiro de 2017

As obras da Carne e o Fruto do Espírito


Todo crente nascido de novo experimenta um conflito interior. É como se houvessem duas pessoas lutando dentro do mesmo, e cada uma com desejos opostos entre si. A ideia evoca a conhecida imagem dos desenhos animados onde diante de um dilema, a pessoa se vê diante de um diabinho e um anjo incitando à escolhas opostas entre si.

Uma oura imagem que pode ser evocada é a do clássico da literatura o médico e o monstro, principalmente na etapa em que Dr Jackil não consegue mais dominar as suas transformações em Mr Hyde. Trato pormenorizadamente desta questão em meu livro Se Tiverdes Fé. Neste aponto que somente quando o homem se desespera de si mesmo e se entrega absolutamente a Deus, pode vir a vencer a carne com suas paixões e concupiscências.

Antes de comentar a lição propriamente dita há que se estabelecer que a abordagem paulina a respeito de obras da carne e fruto do Espírito se encontram no contexto polemista da carta de Paulo aos Gálatas, onde se faz contraste entre o falso e o verdadeiro Evangelho. Nem o Evangelho da tradição e nem o progressista podem libertar o homem das amarras de seus instintos, somente a GRAÇA  o faz.

ANDAR NA CARNE E ANDAR NO ESPÍRITO
Ora, eu vos digo, conduzi-vos pelo Espírito e não satisfareis o  desejo da carne. Pois a carne tem aspirações contrárias ao Espírito, e o espírito contrárias à carne. Eles se opõem reciprocamente, de sorte que não fazeis o que quereis. Mas se vos deixais guiar pelo Espírito não estais debaixo da lei (Gl 5.. 16 - 18 Bíblia de Jerusalém). 
O verbo περιπατεω (peripateioo), é usualmente traduzido como andar, mas pode ser também como viver, tal como ocorre na Nova Versão Internacional. A expressão pode significar andar como também conduzir a vida, daí o modo de vida.

Já a expressão carne pode significar a parte física do homem, sendo correlata ao termo hebraico בָּשָׂר (basar). Esta equivalência aparece em Hb 2. 14, por exemplo, onde se lê: uma vez que os filhos tem em comum carne e sangue (....). O termo pode igualmente ser empregado para expressar aquilo que é exterior, facilmente identificado, aparente. expressões como sábios segundo a carne, ou sabedoria carnal  (I Co 1. 26; II Co 1. 12), logo, σοφοι κατα σαρκα (sophoi kata sarka) ou σοφια σαρκικη (sophia sarkike), são equivalentes e significam sabedoria aparente.

O termo também pde significar meio de geração e parentesco. Neste sentido Jesus Cristo é o descendente de Davi segundo a carne (Rm 1. 3). Aos quais pertencem os patriarcas e dos quais descende o Cristo segundo a carne (Rm 9. 5 Bíblia de Jerusalém). O uso que me interessa aqui é o de carne, ou σαρξ (sarx), e´aquele em que σαρξ equivale à dimensão pecaminosa do homem. Este é o conceito paulino predominante em Rm 7.

A expressão Espírito, é frequentemente interpretada pelos dicotomistas e tricotomistas como sendo a parte superior do homem, que se distingue da animal. Na verdade esta percepção é mais patônica do que bíblica, cristã e teológica em si. Na verdade tanto ר֣וּח (ruach), quanto πνευμα (penuma), são palavras para fôlego, hálito, vento, respiração. logo, com exceção das palavras em que se refere ao Espírito de Deus (ruach elohim -  ר֣וּחַ אֱלֹהִ֔י), ou πνευμα του θεου (pneuma ton theou), ou em que o próprio Deus é chamado de Espírito (Jo 4. 24; II Co 3.17).

O espírito de que Paulo fala neste texto é o Espírito de Deus.
Vós não estais na carne mas no Espírito, se é verdade que o Espírito de Deus habita em vós pois quem não tem o Espírito de Cristo não pertence a ele. Se, porém Cristo está em vós, o corpo está morto, pelo pecado, mas o Espírito é vida pela justiça. E se o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos dará a vida também a vossos corpos mortais, mediante o seu Espírito que habita em vós. Portanto, irmãos, somos devedores, não à carne, para vivermos segundo a carne, pois, se viverdes segundo a carne, morrereis, mas se pelo Espírito fizerdes morrer as obras do corpo morrereis. Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus (Rm 8. 9 - 14 Bíblia de Jerusalém). 
Segue-se então que a força, e a capacidade para vencer as obras da carne não está no ar vital do ser humano, mas no Espírito de Deus que em nós habita. Andar no Espírito equivale a ser guiado, orientado por este. Por sua vez andar na carne indica ser orientado pelos instintos egoístas. Este é o ponto em que se faz necessário considerar a lista de obras da carne, a fim de prosseguir com o estudo.

AS OBRAS DA CARNE
Como de dia, andemos decentemente; não em orgias e bebedeiras, nem em devassidão e libertinagem, nem em rixas e ciúmes. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não procurareis satisfazer os desejos da carne (Rm 13. 13, 14 Bíblia de Jerusalém). 
O primeiro vício condenado por Paulo aqui é a orgia. A expressão grega κωμοις (komois) indica a procissão em honra à Baco. Este era feita à noite. O segundo vício, μεθαις (methais), indica a prática da bebedice, geralmente acompanhando as orgias. A devassidão aqui é a palavra κοιταις (koitais), raiz da palavra coito, em nosso idioma, que a BJ traduz por devassidão. libertinagem, ou dissolução são termos que traduzem ασελγειαις (aselgeiais). Por fim εριδι και ζηλω (eridi kai zeeloo), são respectivamente traduzidos como rixa e ciúme. 
Eu vos escrevi em minha carta que não tivésseis relações com os devassos. não me referia de modo geral, aos devassos deste mundo, ou aos avarentos, ou ladrões, ou devassos, pois então teríeis que sair deste mundo. Não, escrevi-vos que não vos associeis com alguém que traga o nome de irmão e, não obstante, seja devasso, ou avarento, ou idólatra, ou injurioso, ou ladrão. Com tal homem nem deveis tomar a refeição (I Co 5. 9 - 11 Bíblia de Jerusalém). 
Então não sabeis que injustos não herdarão o Reino de Deus? Não vos iludais! Nem devassos, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem os bêbados, nem os injuriosos herdarão o reino de Deus. Eis o que vós fostes, ao menos alguns. Mas vós vos lavastes,  mas fostes santificados, mas fostrs justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito do nosso Deus (I Co 6. 9 - 11 Bíblia de Jerusalém). 
Em um primeiro momento o grande aprendizado consiste em nutrir uma vontade contrária à satisfação dos desejos da carne. Em um segundo momento, que crentes precisam se distinguir do mundo, e o fazem por meio de um procedimento que abomina a devassidão (πορνειαν - porneian), ou imoralidade sexual. Contudo, há que se evitar igualmente a avareza. o termo πλεονεξιαν (pleonexia), indica alguém que busca satisfazer seus desejos a qualquer custo, ainda que mediante sequestro e extorsão. Daí a ligação com o termo αρπαξιν  (arpaxin), cujo sentido é o de alguém que comete extorsão. 

Para todos os efeitos o caminho para a vitória sobre a natureza está na ação do Espírito Santo de Deus. Nada de exercícios de mortificações, mas no poder de Cristo, que opera por meio do Espírito. Esta lista de vícios morais, ou obras da carne são abordadas em vários textos paulinos. Estes retornarão ao longo desta série de estudos. 

O FRUTO DO ESPÍRITO
Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio, Contra estas coisas não há lei (Gl 5. 22 - 23 Bíblia de Jerusalém). 
Amor aqui nada tem a ver com atração física, simpatia e amizade, do contrário seria impossível amar aos inimigos. o termo αγαπη (ágape), indica a mais profunda devoção pelo bem estar do objeto do amor. Já alegria -  χαρα (chara) - não se limita à excitação das funções orgânicas, em razão de um satisfação momentânea, contudo é a alegria em Deus. A paz (ειρηνη - irene), não consiste em ausência de conflito, antes é harmonia, prosperidade tudo quanto se encerra no termo שָׁלֹ֣ום (shalom). 

A longanimidade, ou μακροθυμια (machrotymia) é uma paciência nas relações que permite suportar injúrias alheias. Bondade pode ser também gentileza, ao passo que benignidade é a gentileza em ação. Fidelidade, ou fé do grego πιστις. A lista de virtudes ou frutos se encerra com mansidão e temperança, πραοτης εγκρατεια (parautes e ekgrateia). 

Como este fruto se desenvolve?

  1.  Por meio da decisão do crente em viver pelo Espírito. 
  2. Reconhecendo que para viver em amor o crente depende em tudo do Espírito de Deus e da ação do próprio Deus na vida do mesmo.
  3. Sabedor que a carne não está sujeita à lei de Deus e nem pode ser
  4. Reconhecendo uma por ma das obras da carne e a incompatibilidade destas com a vida cristã e com a vida no Espírito. 
  5. Fazendo morrer, por meio do Espírito de Deus uma por uma das obras da carne. 
Em Cristo, Marcelo Medeiros. 

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