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terça-feira, 12 de maio de 2015

Família, desmistificando o assunto




A razão de ser do presente artigo e consequentemente do presente post é a percepção deste autor de que o assunto da moda é família. A causa? Possivelmente o desejo que cada um traz de ser bem sucedido e realizado nos relacionamentos pessoais, somado às dificuldades que a sociedade atual impõem aos mais variados relacionamentos. Daí, que multiplicam-se exponencialmente autores que escrevem sobre o assunto, e pregadores que fazem incursões no mesmo. Destas, algumas sérias outras comprometedoras.

Este autor acredita que o Evangelho não pode, em hipótese alguma ser comprometido, ou ter a sua essência alterada em detrimento das mais variadas necessidades humanas. A mulher samaritana necessitava de água e de salvação. Ela quis unir o útil ao agradável, mas nem por isto Jesus deixou de confrontar a mesma. Eis aqui um vivo exemplo de que o Evangelho não deve ser adaptado.

A razão de ser de tal exposição, se dá pelo fato de que reconhecidamente o ambiente pentecostal não é aberto à crítica intelectual. Sendo a mesma frequentemente confundida com julgamentos pessoais. Daí a necessidade de esclarecer que o propósito deste post não é o de denegrir homem de Deus algum, mas tão somente separar a verdade do erro, e zelar pelo Evangelho.

Em uma Escola Bíblica, este autor teve o desprazer de ouvir uma pregação ("palestra motivacional?") a respeito da família. Nesta o palestrante apontava a longevidade de Abraão como procedente das relações familiares saudáveis, ao passo que Davi, envelheceu rápido por não ter sido bem sucedido com a família.

O primeiro questionamento que vem à mente é: um homem casado com uma mulher estéril, em uma cultura patriarcal, tribal, pode ser tido como  realizado? Um lar onde a concubina entre em rota de colisão com a principal esposa, é um ambiente pacífico? Uma vez consideradas estas questões o autor pode concluir por si só que, no mínimo, houve por parte do palestrante uma idealização de quem das relações familiares de Abraão.

Há de se lembrar que Abraão conhece Hagar no momento em que peregrinou para o Egito. E o preço de sua paz lá naquelas terras foi um estranho acordo com sua mulher, a de que esta dissesse que era sua irmã e os homens do lugar poupassem a vida do patriarca, do grande pai na fé, por amor de sua mulher. O leitor, ou leitora consegue imaginar um homem que honre sua hombridade fazendo tal coisa? Nem o roteirista de proposta indecente conseguiu imaginar algo desta proporção! Afinal, na obra cinematográfica, há arrependimento por parte do homem, ainda que tardio, mas alguém vê no texto bíblico um mínimo esboço de comoção em Abraão? Pelo contrário, ele ganha presentes do Faraó!

Uma vez desmistificado o caso de Abraão, convém desmistificar o caso de Davi. Por mais que se ressaltem elementos bíblicos e textuais apontando o Rei e poeta como um homem omisso com seus filhos, depressivo, permissivo, ao ponto de entregar o controle familiar e ser manipulado pelo seu general, e por Bete-Seba; há que se considerar um fator: a casa de Davi, estava sob juízo divino por causa do seu adultério com a mulher de Urias, e como não bastasse, a forma como ele tramou a morte deste.

A única coisa que explica a atitude de tal pregador é que no lugar do mesmo fazer exegese, ele fez eisegese. No lugar de trabalhar com o sentido original dos textos e com um sólido paradigma teológico, o palestrante preferiu inserir alguma ideia, cuja fonte é difícil de rastrear, mas não de especular. O resultado foi uma mensagem agradável para quem se encontra sérias dificuldades familiares, mas totalmente divorciada do Evangelho.

Aqui é o momento de ressaltar dois elementos ignorados pelos pregadores de família. O pecado e a graça. No caso de Davi, o pecado é bem claro. Ele não resiste a um rabo de saia. Além das muitas mulheres no caso de Nabal ele se mostra iracundo. Seus pecados são facilmente identificados, ao passo que no caso de Abraão, não fica muito claro, e dos que aparecem, tal como a mentira de por duas vezes fazer sua mulher passar por irmã, imediatamente os papas do evangelicalismo levantam defesas e justificativas para encobrir o erro do patriarca. Mas a mulher que quiser ver em Abraão um modelo ideal de homem tem de estar pronta para dividir ele com outra, ou a ser rifada. 

Davi tinha problemas pessoais e estes apenas reforçam que sua chegada ao trono de Israel foi uma questão de Graça de Deus, e tão somente esta. Pela lógica um rei de um povo tem no lar o teste final de sua capacidade de governar, mas a graça subverte esta e todas as demais lógicas humanas. Foi assim no caso de Eliabe, e Elisama, por que não seria com os conceitos modernos tais como os defendidos pelo palestrante?

A consequência imediata da perda da visão de pecado é a banalização da graça. Abraão viveu mais de cem anos? Graça! Davi viveu apenas seus setenta e alguns? Graça! Do erro de Abraão saíram duas nações numerosas e poderosas, e de Davi reis, que não foram depostos de seus tronos? Graça! Por graça Abraão é amigo de Deus, e Davi, o homem segundo o coração de Deus, que ao contrário de Saul, fez toda a vontade de Deus pertinente ao seu reino

É mais do que coerente que crente algum queira para si as consequências da vida de Davi. Para tal basta, em tese que não se cometam os mesmos erros que ele cometeu. Mas nem isto é garantia de pleno sucesso na vida familiar. Afinal, filhos, mulher, marido, sogro, sogra, genro, nora não são personagens de comercial de margarina, mas seres caídos e como tais precisam ser considerados e tratados. 

É unica e exclusivamente por meio deste entendimento que maridos, mulheres, pais, filhos, genros, noras, sogros, sogras, passam a tratar uns aos outros com base no perdão, no amor, na misericórdia e outros elementos que ajudam a superar as mazelas da convivência em um mundo caído, mas longe de um paraíso na terra. Aos que desejam fazer de seus respectivos lar um paraíso, cabe a lembrança de que após pecar o homem foi expulso de lá, e por quê? Para não tomar da árvore da vida. Na condição de pecadores o homem não pode se realizar plenamente em esfera alguma de sua vida. Fica a lição. 

Marcelo Medeiros. 

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