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sábado, 4 de abril de 2015

O Evangelho Segundo Lucas



Evangelho é uma palavra que na sua acepção original remete ao galardão concedido aos que proclamam boas novas, no caso, as notícias em tempos de guerra. Passando sucessivamente a significar o ensino doutrinário e as boas notícias anunciadas pelos apóstolos de casa em casa e no templo judaico (At 5. 42). Daí que a primeira definição que o Michaellis dá a palavra seja doutrina de Jesus Cristo [aqui].

Mas a segunda definição reflete melhor a compreensão atual a respeito do que seja Evangelho. Os quatro primeiros livros do Novo Testamento, os escritos pelos evangelistas Mateus, Marcos. Lucas e João, em que está narrada a vida e doutrina de Jesus Cristo. Dentre estes destaca-se um pela singularidade literária, predileção temática e emprego de palavras próprias de um técnico, é o Evangelho de Lucas. Que os amantes do estudo da Bíblia e fraquentadores da Escola bíblica dominical estarão estudando aos domingos pela manhã. 

AUTORIA E DATA

O primeiro ponto favorável a autoria lucana do terceiro evangelho é o apoio da tradição que desde cedo atribuiu a este médico, pouco citado nas Escrituras, é claro, os créditos pela elaboração da obra em apreço. A leitura deste primeiro tratado ao lado do segundo (At 1.1, 2), a observação dos termos comuns a ambas indica que o autor é o mesmo. Todavia este não se identifica nem no primeiro, nem no segundo tratado, tudo o que se sabe é que é alguém que se interessa por medicina e que faz emprego de termos médicos, sendo inclusive seletivo com os termos gregos que emprega. 

Exemplos? Ao se referir aos prazeres da vida (ηδονων του βιου - edone toy bioy), ele emprega um termo que se aproxima da palavra para vida no sentido biológico (Lc 8. 14), e ele o faz mesmo sabendo que vida no sentido mais pleno é ζωη (zooeé), esta é mais uma distinção entre a vida presente (βιου) e a eterna (ζωην αιωνιον - zooeé aioonion). 

Ora, levantando-se Jesus da sinagoga, entrou em casa de Simão; e a sogra de Simão estava enferma com muita febre, e rogaram-lhe por ela. E, inclinando-se para ela, repreendeu a febre, e esta a deixou. E ela, levantando-se logo, servia-os (Lc 4. 38, 39 ACF). Perceba o emprego da expressão πυρετω μεγαλω (pyretoo megaloo), que pode ser traduzida como grande, ou muita febre, e segundo Vincent, é a expressão peculiar de um médico. 

Um outro detalhe é precisão de Lucas face aos acidentes geográficos. Nas cinco referências mais imediatas ao Lago de Genesaré (Lc 5. 1, 2; 8. 22, 23, 33), ele emprega λιμνην γεννησαρετ (limnee Genneesaret), ou simplesmente λιμνην (limnee), ao invés de θαλασσαν (thalassan), expressão para mar. Estes e outros fatores indicam alguém de mente grega. 

Lucas chama sua produção bibliográfica de επεχειρησαν (epecheiresan), cujo sentido é o de concepção de uma tarefa difícil (Lc 1. 1). Nada de anormal, uma vez que ele tem pretensões de organizar (αναταξασθαι - anatazanthai - ou por em ordem), o material colhido por meio de prováveis entrevistas às testemunhas oculares (Lc 1. 2). 

O que se chama atualmente de Evangelho foi primeiramente a proclamação e o ensino apostólico (Mt 5. 42). Foi somente na medida em que as testemunhas oculares foram morrendo que surgiu a preocupação com a produção literária dos evangelhos. Todavia os eruditos insistem que tal se deu em um prazo menor ao de trina anos, o que coloca a data de composição deste evangelho aproximadamente em sessenta e dois depois de Cristo. O que justificaria a ausência de menções, em Lucas e nos demais evangelistas de relatos da queda de Jerusalém.

FUNDAMENTOS E HISTORICIDADE DA FÉ CRISTÃ

Muitos já se dedicaram a elaborar um relato dos fatos que se cumpriram entre nós, conforme nos foram transmitidos por aqueles que desde o início foram testemunhas oculares e servos da palavra (Lc 1. 1, 2 NVI). 
Tendo, pois, muitos empreendido pôr em ordem a narração dos fatos que entre nós se cumpriram, Segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde oprincípio, e foram ministros da palavra (Lc 1. 1, 2 ACF).  
A julgar pelas palavras de Lucas na epígrafe do seu Evangelho, é possível observar que:

  1. A pretensão do autor é a de colocar em ordem os fatos que se deram em Jerusalém e nas regiões adjacentes. 
  2. O mesmo se refere aos relatos registrados pelo nome de fatos, que em grego são chamados de πραγματων (pragmaton), possivelmente a palavra que tenha dado origem ao termo pragmatismo, que é um ramo da filosofia (de cunho americano), que preconiza que a finalidade última do conhecimento é a prática. 
  3. πραγμα, ou πραγματων são termos que denotam ação, atos, feitos, indicando que os Evangelhos são registros das ações de Cristo. 
  4. Os fatos narrados se deram na história, não é sem razão que Lucas faz frequentes alusões aos personagens históricos contemporâneos dos eventos que ele pretende registrar. 
  5. Os relatos são fruto da transmissão oral e escrita de testemunhas oculares. 
  6. Estas testemunhas presenciaram os eventos narrados desde o princípio, daí a legitimidade dos mesmos como ministros da Palavra. O termo para ministro é o mesmo empregado por Paulo (I Co 4.  1), υπηρεται (hyperetai), que no linguajar médico se aplica aos auxiliares do médico principal. 
  7. Para todos os efeitos, Lucas desenvolveu seu relato a partir de acurada investigação, conforme ele mesmo dá a entender por meio das seguintes palavras: havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio (Lc 1. 3 ACF). 
  8. Ao que parece Lucas dirige oseu evangelho a uma pessoa de posição elevada por nome de Teófilo, que é chamado de κρατιστε (kratiste), cujo sentido é o de nobilíssimo, sendo aplicado exclusivamente a quem está em eminência (At 23. 26; 24. 3; 26. 25). 
  9. A despeito da posição de autoridade ocupada por Teófilo, pode-se perceber que ele era um discípulo, uma vez que o verbo κατηχηθης  (kateecheethees) é a palavra que dá origem ao vocábulo catequese. Mais do que material para discipulado, Lucas pretende imprimir em Teófilo a certeza dos fatos em que o mesmo foi instruído. 
  10. ασφαλειαν (assphaleian) é um termo que junta α (de negação) com σφαλειαν (que segundo Vincent é cair), conferindo noção de estabilidade, segurança contra o erro, podendo ser traduzida como verdade e solidez. 
ALGUMAS VERDADES RESSALTADAS EM

Lucas é acertadamente o Evangelho da salvação universal. Nele Jesus é chamado de salvação, que preparaste à vista de todos os povos: luz para revelação aos gentios e para a glória de Israel, teu povo (Lc 2. 30 - 32 NVI). Por este motivo asseguradamente é afirmado: E toda a humanidade verá a salvação de Deus  (Lc 3. 6 NVI). 

Olhando para os seus discípulos, ele disse: Bem-aventurados vocês os pobres, pois a vocês pertence o Reino de Deus (Lc 6. 23 NVI). Lucas demonstra inegável olhar para com os pobres, que aqui não são pobres no sentido dos poucos recursos que possem, mas os seus discípulos, ou  aqueles que sabem que nada podem fazer por sua salvação. É a estes que  o ministério de Jesus se  dirige. 

O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos (Lc 4. 18 NVI). Não é sem razão que ele atenta para a viúva que em sua pobreza dá em oferta tudo quanto possui (Lc 21. 2 - 4), que no banquete, os párias sociais são privilegiados (Lc 14. 21ss). 

Mas Lucas também é o Evangelho em que a mulher assume papel significante. A pecadora que ungiu Jesus e lavou os pés recebe a honra de ter o seu ato lembrado onde o Evangelho for pregado (Lc 7. 37 - 50). Algumas mulheres que auxiliavam o ministério de Jesus são apresentadas aqui: e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e doenças: Maria, chamada Madalena, de quem haviam saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, administrador da casa de Herodes; Susana e muitas outras. Essas mulheres ajudavam a sustentá-los com os seus bens (Lc 8. 2, 3 NVI). 

Lucas mostra Jesus orando. Ele orou no batismo (Lc 3. 21, 22). A despeito da multidão que era atraída por seu ensino e milagres ele é descrito como alguém que gostava de se retirar para orar. A sua fama, porém, se propagava ainda mais, e ajuntava-se muita gente para o ouvir e para ser por ele curada das suas enfermidades. Ele, porém, retirava-se para os desertos, e ali orava (Lc 5. 15, 16 NVI). 

Após os momentos de conflito, decorrentes do conflito de interesses entre Jesus e os fariseus ele se retirou para orar. Logos após a noite de oração, ele chama os seus discípulos para que estes façam parte de seu colegiado. E, olhando para todos em redor, disse ao homem: Estende a tua mão. E ele assim o fez, e a mão lhe foi restituída sã como a outra. E ficaram cheios de furor, e uns com os outros conferenciavam sobre o que fariam a Jesus. E aconteceu que naqueles dias subiu ao monte a orar, e passou a noite em oração a Deus (Lc 6. 10 - 12 NVI). 

Tantos em Atos quanto no Evangelho Lucas demonstra um interesse intenso no Espirito Santo (Lc 1. 15, 35, 41, 67, 80; 2. 25 - 27; 4. 1, 14, 18). Minha oração é que Deus por Cristo Jesus nos habilite a perseverar nos estudos das verdades fundamentais das boas novas de Cristo. 

Marcelo Medeiros

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