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segunda-feira, 16 de março de 2015

Vem vamos embora que esperar não é saber




Neste artigo faço menção aos versos da canção pra não dizer que não falei das flores, popularizada por meio da inesquecível interpretação de Geraldo Vandré. Esta canção se tornou o hino nacional contra a ditadura. Faço menção à referida canção em razão dos protestos deste último domingo. Eles refletem o caldeirão cultural e a babilônia (falo no sentido de confusão das línguas ocorridas no evento bíblico Babel) ideológica que esta nação povoada pelas mais diversas etnias se tornou.

Nunca, assim creio eu, foi tão necessária a esta nação uma voz que traduzisse para os próprios manifestantes seus mais profundos anseios. Falo disto, porque não tenho como acreditar que o povo queira, de fato, intervenção militar, ou ditadura (diga-se de passagem que ambas são extremamente diferentes), mas inaceitáveis. O povo quer é retorno nos impostos, fim de regalias para políticos, melhorias na saúde, educação, segurança e demais serviços.

Enquanto governo e oposição discutem o teor das manifestações, e o fazem com o foco na polarização direita/esquerda, em conspirações contra a democracia (falo dos pedidos "populares" de impeachment), em golpismo, em corrupção do governo (como se esta fosse um problema da situação, ao invés da marca indelével desta nação); o grito permanece preso no coração das pessoas.

Vejo imagens em redes sociais de pessoas com faixas e nestas a cruz suástica, simbolo do nazismo cuja herança maldita ninguém quer de fato. Outras seguram faixas pedindo intervenção militar, alguns chegam ao cúmulo de solicitar a volta da ditadura. E onde a canção de Geraldo Vandré entra nisto? No simples verso quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

João Bosco, grande filósofo da MPB acertou em cheio quando disse que a esperança equilibrista sabe que o show do bom artista, tem que continuar. Particularmente creio que é a Esperança o gás que move professores a continuar ensinando mesmo em um país onde o governo corta gastos com educação e teóricos insistem em querer aplicar conceitos empresariais e meritocráticos à educação como se educar fosse similar à produção fabril, por exemplo.

É a esperança que move o homem a ser minimamente honesto, mesmo em meio ao lamaçal de este corrupção que este país tem se tornado. Mas perceba que o autor fala de uma esperança equilibrista, o que supõe um abismo a ser atravessado. Atravessar o abismo equilibrando na esperança é o desafio de quem sabe e faz a hora e não espera acontecer.

Aqui são mais do que válidas as palavras de Paulo Freire e frequentemente citadas por Mario Sérgio Cortella, é preciso esperar, mas esperar do verbo esperançar, em outras palavras, uma espera que não é passiva, mas que conforme atravessa o abismo do real em direção ao utópico, ao esperado, ao desejado.

Toda vez que vejo um Fora Dilma, Fora PT, e tantas outras palavras de ordem presentes nos protestos dos últimos anos me lembro das palavras acima, que somente agora consigo traduzir, mas que já as trago como anseio. O problema com a democracia no Brasil está na falta de percepção de que é preciso saber esperar, mas esperar do verbo esperançar, e que aí reside a sabedoria do esperar que é saber e que faz acontecer, não percebido por Vandré.

O brasileiro sofre de um mal, o de esperar o amanhecer de um pensamento, que vai mudar o mundo com seus moinhos de vento, e com isto se entrega a toda e qualquer cruzada quixotesca. Não há mudanças que ocorram em um passem de mágica. A democracia à brasileira ainda é muito marcada pela herança nefasta da ditadura. A própria ausência de participação popular no processo democrático, nas cobranças ao governo, no uso politico consciente das redes sociais demonstra isto.

Por este motivo não atendi a solicitação de Malafaia, não coloquei camisa amarela, e não fui, e nem irei às ruas pedir a volta da ditadura. Me manifestarei sim contra a corrupção e contra a forma de se fazer política neste país. Todavia, o farei sabedor de que o momento atual ainda que não seja perfeito é democrático em sua essência e infinitamente melhor do que o retrocesso à ditadura. E mais, a precariedade de nossa democracia (bem como tudo o que reclamam em Dilma) a é consequência direta da nefasta herança ditatorial. 

Falo isto sabedor de que os militares deixaram o poder há mais de vinte anos e que já era o tempo em que o povo e os políticos deste país deveriam começar a acertar. Estes cumprindo a sua real missão, aqueles cobrando, mas esperançoso de que no caminho a ser percorrido ambos aprenderão por meio de erros e acertos. 

Ao povo que protesta nas ruas, eleitores de Dilma, ou não, foco. E o foco é a corrupção, que não é particular do PT e menos ainda do PSDB, mas da forma de se fazer política neste país. Aos políticos, chega de conchavos e protecionismos. Transparência nas ações políticas e no combate á corrupção são palavras de ordem. E acima de tudo, entendam que este é o real pedido do povo nas ruas. 

Marcelo Medeiros.

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