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sábado, 26 de abril de 2014

Dons de poder


Os dons são dadivas por meio das quais Deus manifesta a sua graça na Igreja, é importante que este conceito seja mantido, a fim de que distorções sejam evitadas. No Evangelho não há espaços para a logica do mérito (aqui), logo, mesmo os dons de poder são meios pelos quais Deus evidencia seu poder com vistas à glorificação do seu nome, somente.
Uma importante questão levantada pelo autor da lição na introdução da mesma, pode ser colocada nestes termos: se na igreja do primeiro século foram verificados tantos sinais, por quais motivos nos tempos atuais tais sinais não são vistos com a mesma abundancia com que se podiam ver nos primeiros tempos?
uma resposta significativa para este questionamento é que vem da teologia de fundo cessacionista, a saber, que os milagres são característicos da era apostólica, e passado o tempo dos apóstolos, eles cessaram. O problema deste tipo de pensamento é que ele se baseia em algo que a Bíblia não fala, seja de forma implícita, seja de forma explícita.
Em outras palavras, em texto algum da Bíblia se lê qualquer afirmação a respeito do desaparecimento dos dons espirituais após o encerramento da era apostólica. Mas nos dias atuais é possível a constatação de que estes sinais estão se tornando cada vez mais escassos. Por quais motivos? Esta é uma pergunta que precisa ser respondida.

I) OS MILAGRES NO QUADRO GERAL DA BÍBLIA SAGRADA

O consenso do ponto de vista teológico é o de que milagres são meios de evidenciar a verdade em um período da revelação. Por exemplo, ao enviar Moisés ao Egito com vistas a libertar o povo, Deus concedeu sinais a Moisés a fim de que o mesmo se tornasse digno de crédito aos olhos do povo (Ex 4. 8, 9 [aqui e aqui]). Sendo que neste ultimo link ainda se pode observar que um dos propósitos divinos com os milagres é a divulgação da nome do Senhor. Isto se comprova por meio de duas ocasiões em que Deus mesmo afirma que está endurecendo o coração do Faraó a fim de que seu nome seja glorificado na terra.
Porque eu já poderia ter estendido a mão, ferindo você e o seu povo com uma praga que teria eliminado você da terra. Mas eu o mantive de pé exatamente com este propósito: mostrar-lhe o meu poder e fazer que o meu nome seja proclamado em toda a terra (Ex 9. 15, 16 NVI). 
e,
Diga aos israelitas que mudem o rumo e acampem perto de Pi-Hairote, entre Migdol e o mar. Acampem à beira-mar, defronte de Baal-Zefom. O faraó pensará que os israelitas estão vagando confusos, cercados pelo deserto. Então endurecerei o coração do faraó, e ele os perseguirá. Todavia, eu serei glorificado por meio do faraó e de todo o seu exército; e os egípcios saberão que eu sou o Senhor (Ex 14. 2 - 4 NVI).  
Ainda que de inicio os sinais sejam uma forma para que se confirme que a chamada de Moisés realmente procede Deus, na verdade, eles são uma demonstração de que na verdade, os sinais são o cartão de apresentação de Deus. Isto fica claro no transcorrer da revelação divina, uma vez que os salmistas não titubeiam em afirmar que Deus realizou em pleno Egito sinais e maravilhas, contra o faraó e todos os seus conselheiros (Sl 135. 9 NVI), e que Ele mostrou os seus prodígios no Egito, as suas maravilhas na região de Zoã (Sl 78. 43 NVI).
Dentro do quadro do Evangelho é possível a percepção de algumas verdades a respeito dos milagres. Para tal, partirei de um texto controverso, que é o de Marcos, digo controverso, por não constar na maior parte dos manuscritos, mas que creio ser verídico.
E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; Pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porãoas mãos sobre os enfermos, e os curarão. Ora, o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu, e assentou-se à direita de Deus. E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que se seguiram. Amém (Mc 16. 15 - 20 ACF). 
Neste texto é possível observar:
  1. Uma ênfase na pregação, uma vez que a ordem de Cristo é que se pregue o Evangelho a toda a criatura.  
  2. Uma preocupação, por parte de Cristo com a salvação, com o destino final das criaturas as quais o Evangelho é ofertado.
  3. A promessa de sinais seguindo os que creem no Evangelho. Estes mesmos sinais são os sinais da presença do Reino de Deus entre os ouvintes (Mt 11. 5ss).
  4. Após ordenar a pregação do Evangelho, Jesus é recebido á direita de Deus, indicando com isto sua posição de autoridade (Sl 110. 1, 2; At 1. 10, 11; 7. 58).
  5. Os discípulos cumprem imediatamente a palavra de Cristo e saem pregando o Evangelho.
  6. Em resposta à obediência dos discípulos, o senhor coopera com os mesmos. Aqui aparece um termo similar ao verbete συνεργον (synergon), palavra que dá origem ao vocábulo sinergia, que se pode entender como sendo o concurso de diversos órgãos na realização de uma função  indica alguém que ajuda outro em suas funções.
  7. No texto aparecem, respectivamente as palavras σημεια (semeia) e σημειων (semeion), palavras que são empregadas na Bíblia como equivalente do hebraico הָאֹ֣ת (hoth) e suas variantes o significado do mesmo é marco, um símbolo, e que na teologia bíblica são milagres que visam comprovar a mensagem de Deus para o seu povo.
  8. Ao longo do Novo Testamento os termos  σημεια (semeia) e σημειων (semeion), são associados a outro termo, τερασ (teras), cujo sentido é o de uma obra prodigiosa, e que tem no hebraico מֹופְתַ֖ (môpheth) seu correspondente.
A conclusão imediata é de que os sinais são o meio pelo qual Deus coopera com os seus mensageiros na tarefa da pregação do Evangelho, confirmando com isto a mensagem que os mesmos estão proferindo. Ao longo do Novo Testamento é possível sim ver a vindicação de sinais e prodígios como marcas de um ministério apostólico autentico. É o que Paulo, por exemplo, faz ao afirmar: Os sinais do meu apostolado foram manifestados entre vós com toda a paciência, por sinais, prodígios e maravilhas (II Co 12. 12 ACF).
Mas é um erro o entendimento de que os sinais são restritos à presença apostólica, uma vez que escrevendo aos irmãos da Galácia, Paulo pergunta: Aquele, pois, que vos dá o Espírito, e que opera maravilhas entre vós, o faz pelas obras da lei, ou pela pregação da fé? (Gl 3. 5 ACF). Tanto a presença do Espírito quanto a realização de maravilhas é creditada ao Senhor, ao invés de ser aos apóstolos.
Deste breve estudo, e dos demais indicados supra, a conclusão que emerge é a de que os milagres visam:
  1. Exaltar a Deus acima dos demais deuses das nações, e não é sem razão que coloco aqui esta como a primordial das razoes, uma vez que esta é a principal e possui ampla fundamentação bíblica.
  2. Confirmar uma determinada revelação.
  3. Despertar a fé das pessoas às quais determinadas revelações são conferidas, embora isto nem sempre funcione.
  4. No novo testamento, os milagres e sinais visam conferir crédito á mensagem pregada. Assim, onde estiver a palavra, em tese, os milagres estarão também.
Mas convém observar que nem sempre os milagres se manifestam como forma de credibilizar a verdade. Isaías foi autorizado a dar um sinal para Ezequias como forma de confirmar a mensagem profética a respeito de sua cura (Is 37. 7, 8), algo que não se vê na maioria absoluta dos profetas. E o próprio Cristo decidiu, livremente, não fazer sinais em determinados momentos.
 
II) O CONCEITO DE PODER
Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus (I Co 1. 18 ACF).
Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus (I Co 1. 24 ACF).
E a minha palavra, e a minha pregação, não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder; Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus (I Co 2. 4, 5 ACF). 
Para Paulo a própria pregação e o próprio Evangelho, por si sós, são o poder de Deus em ação em prol da salvação do homem. Em todos estes textos o termo que mais aparece é o grego δυναμει (dinamei) e variantes. O termo indica, entre outros, feitos poderosos, milagres (Mt 7. 22; 11. 20, 21, 23; 13. 54, 58; 14. 2; At 2. 22; I Co 12. 10).
Os sinais e maravilhas do Espírito de Deus acompanham a pregação do Evangelho, embora seja respeitada a livre e soberana ação de Deus. O que se quer dizer com isto? Sendo um proposito divino operar um milagre, não há teologia que possa engessar tal disposição divina. Ainda que se alegue a ausência de sinais em Corinto, por exemplo, a própria pregação do Evangelho, em meio às mais cruéis adversidades é, por si só, um dos maiores milagres. É exclusivamente a partir desta ótica que entendo o pensamento de pascal, para quem a sobrevivência da fé era um milagre. É sob estes aspectos que tecerei breves considerações sobre os dons de poder.
 
III) DONS DE PODER
 
São dons de poder: fé, operação de maravilhas, e dons de curas. Não se tratam de privilégios concedidos a alguns, mas de dadivas da graça de Deus, que manifestam o agir do mesmo em meio á pregação do Evangelho, visando a glória do próprio Deus. É o caso, por exemplo da fé que Paulo visualizou em um jovem e por meio da mesma afirmou o poder de Cristo, para lhe dar a saúde (At 14. 9). Cristo tributou esta fé tanto ao centurião romano que teve o seu servo curado (Mt 8. 10, 13), e na mulher siro fenícia que buscava a cura de sua filha (Mt 15. 28). Esta mesma fé esteve presente na vida de Abraão 
(Como está escrito: Por pai de muitas nações te constituí) perante aquele no qual creu, a saber, Deus, o qual vivifica os mortos, e chama as coisas que não são como se já fossem. O qual, em esperança, creu contra a esperança, tanto que ele tornou-se pai de muitas nações, conforme o que lhe fora dito: Assim será a tua descendência.
E não enfraquecendo na fé, nào atentou para o seu próprio corpo já amortecido, pois era já de quase cem anos, nem tampouco para o amortecimento do ventre de Sara.
E não duvidou da promessa de Deus por incredulidade, mas foi fortificado na fé, dando glória a Deus, E estando certíssimo de que o que ele tinha prometido também era poderoso para o fazer
(Rm 4. 17 - 21 ACF). 
Como esta fé não pode ser encontrada na natureza humana, a definição mais própria do que venha a ser o dom da fé, é a habilidade de crer em Deus, ou em suas promessas, sem nenhuma dúvida humana, descrença e raciocínio. Esta fé, se manifestou nos dias apostólicos na pessoa de Estevão, que a Bíblia define como homem cheio de fé e do Espírito Santo. O termo para cheio de fé é πληρη πιστεως (plere pisteos), cujo sentido é o mesmo de pleno (no sentido de plenitude), de fé e do Espírito Santo.
Os dons de curas, χαρισματα ιαματων (charismata iamatoon), indicam, na verdade a capacidade de curas especificas por parte de determinadas pessoas no tocante a enfermidades específicas. Este dom se manifestou em Pedro, que em duas ocasiões diferentes ministrou curas sobre a vida de pessoas que possuíam enfermidades que comprometiam a capacidade física de andar (At 3. 11, 16; 9. 33, 34), e isto ocorre de uma forma tal que o povo que vivenciou tais experiências passou a fazer uma prática, ao meu ver espúria, a de colocar enfermos para que ao passar a sombra de Pedro, os mesmos fossem curados (At 5. 15, 16).
De igual modo, maravilhas são vistas nos ministério de Paulo, e isto ao ponto do mesmo afirmar: Porque não ousarei dizer coisa alguma, que Cristo por mim não tenha feito, para fazer obedientes os gentios, por palavra e por obras; Pelo poder dos sinais e prodígios, e pela virtude do Espírito de Deus; de maneira que desde Jerusalém, e arredores, até ao Ilírico, tenho pregado o evangelho de Jesus Cristo (Rm 15. 18, 19 ACF).
Um breve exemplo da presença do dom de operação de maravilhas (ενεργηματα δυναμεων [energmata dinameon]) na vida do apostolo em questão pode ser visto nos sinais que ele, pelo poder de Deus, operou na Ilha Malta, por ocasião de um naufrágio, quando o mesmo chegou a ser mordido por uma víbora (At 28. 5, 6). Contudo, no entendimento do apostolo em questão, as maravilhas não se esgotam aí, mas compreendem a obediência, por parte dos ouvintes, na pregação do Evangelho. É neste contexto que as maravilhas e os prodígios são considerados. 
Encerro afirmando que creio nos dons como uma realidade presente e atual, a despeito do caráter soberano com que os mesmos se manifestam, afinal, um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer (I Co 12. 11 ACF), mas cabe a cada um de nós buscar sim, tais dons, a fim de que em nossa era, a graça de Deus se manifeste de forma visível e Cristo seja glorificado por meio do seu corpo, que é a igreja.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

Um comentário:

  1. Creio que o mal de nosso século seja creditar maior honra e santidade ao irmão agraciado com dons de curas e operar maravilhas. Talvez nos falte humildade para compreender que os dons são distribuídos para glorificar a Deus fazendo Seu nome grande e não doados aos mais santos afim de enaltece-los demonstrando ao mundo quão bons cristãos são.
    Tal conhecimento poderia nos eximir de sentimentos de inveja e facção fazendo o Reino prosperar e a Igreja caminhar em autoridade.

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