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quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Você acredita em uma asneira desta?

 
 
Li um artigo em um site, onde se afirma que a Bíblia reduz a auto estima humana aqui. É aí me lembrei automaticamente de Pondé, para quem o pensamento politicamente correto é engessado pela ideia de que o homem é um ser isento aqui. A brilhante autora sem fazer citação alguma coloca no seu honestíssimo post algumas perolas do tipo: A Bíblia desenha você como o pior e mais abjeta pessoa do mundo, e faz isto para que você sinta culpa e se dobre a um deus mesquinho e egoísta, que lida com os seus na base da logica do castigo e da recompensa. Discurso velho, conhecido desde Freud, sendo que este, ao que parece foi original.
É verdade que a descrição bíblica do homem oscila entre o pessimismo ao descrever o mesmo alguém que é mau desde a sua infância (Gn 6. 5; 8. 21 aqui e aqui), e o otimismo ao colocar o mesmo como imagem de Deus e portanto digno de preservação da vida e respeito do seu semelhante (Gn 1. 26, 27; 9. 5, 6), fato ignorado pela autora. Sim, a autora acerta em cheio quando afirma que mesmo as mais proeminentes figuras da Bíblia são mostradas em seu aspecto mais vil, mas erra ao omitir a forma com a qual Deus as considerou, ou deu testemunho das mesmas. Exemplos?
 
  1. Abraão foi chamado amigo de Deus, a despeito de ter mentido (Is 41. 8).
  2. Davi foi chamado de homem segundo o coração de Deus (At 13. 22), o auto retrato de Davi nos Salmos 18, e 27 não lembram um homem depressivo. E mesmo quando este peca, ele sabe que será aceito por Deus (Sl 130. 4).
  3. Salomão mesmo antes de nascer foi tido por Deus como filho (II Sm 7. 12 - 14).
  4. Moisés, a despeito do seu reconhecido gênio e temperamento, foi chamado de servo fiel em toda a casa, alguém com quem, Deus falava face à face (Nm 12. 7, 8). Dizem que Deus não deixou que ele entrasse na terra prometida, mas três homens viram ele ao lado de Cristo no monte da Transfiguração (Mt 17. 1 - 9). Teria o Filho do agrado do Pai negociado com Iahweh a entrada de Moisés pelas portas dos fundos?
  5. De Maria Madalena nada é dito, exceto que ela era uma mulher de Magdala que era possuída por sete demônios e que, de acordo com o relato de Lucas foi colaboradora de ministério de Jesus.
E paro por aqui visto que não estou escrevendo um texto apologético, mas provocativo. Não falo aqui como quem, por exemplo, tenta provar a existência de Deus, e a inerrância da Bíblia. Mas como quem faz uma provocação, á altura da autora do post. E uma provocação que entendo ser interessante é ver a Bíblia como pioneira na descrição da ambivalência humana. Pascal afirma que um dos pontos que fez com que ele visse na religião cristã algo verdadeiro, era o fato de ser a única que destacava, ao mesmo tempo a miséria e a dignidade humana. Ao que saiba é isto que as passagens acima dão a entender.
Creio que a autora quase percebeu o cerne da questão quando indagou aos cristãos e aos que tentam serem pessoas boas, se estas se viam pelo prisma que a Bíblia desenha da humanidade. Aqui quase que escapa que tentamos ser bons. Eu diria que se fossemos bons, não tentaríamos. Tal como os animais simplesmente agiríamos desta ou daquela forma. Mas nosso senso de inadequação aparece quando mesmo reagido bem a uma determinada situação sentimos que não deveríamos ter agido tão resignadamente, ou tão asperamente.
De igual modo creio que o humanismo elaborou uma doutrina muito positiva a respeito do homem. esta se consolidou na visão romântica de Rousseau, na qual o homem é bom e a sociedade o corrompe, mas quem corrompe a sociedade que irá corromper os homens bons que nascem nela? Mas não podemos cair no extremo oposto, Hobbes, para quem o homem é o lobo do homem. Fico sim, com Pascal, e com a bíblia, visto que para ambos, o homem é simplesmente um ser contraditório, quimérico, e ambivalente.
 
Marcelo Medeiros.
 

4 comentários:

  1. O título é bem pertinente, pastor. A autora deve ser um desses fanáticos anticristãos revoltadinhos, que foram encarregados por Deus de tornar verdadeira a previsão de Jesus: "Porventura, quando o Filho do Homem vier achará fé na Terra?" Sou defensor da ideia de que tais fanáticos são apenas marionetes nas mãos de Deus, para que, no final, a manifestação de Sua glória seja a máxima possível. E não podemos ter esse máximo sem termos experimentado a disputa com adversários que se julgam superiores. Abraço.

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  2. Marcelo Medeiros
    Nada sabia a respeito de Freud ter escrito algo nos moldes da sua afirmação; nunca li nada dele.
    Ainda, o que quer que Pondé pense sobre politicamente correto, também desconheço, tenho minhas próprias ideias a respeito, mais precisamente, abomino o politicamente correto. Para mim é um dos instrumentos da esquerda estupidificante.
    Sobre Pondé, especificamente, me desagrada. Já li alguns textos dele e embora admire sua disposição em combater a idiotia esquerdista, não me sinto capaz de dissociar alguns posicionamentos do resto da pessoa, como sua entusiasmada defesa do argumento de sorver sangue menstrual como parte do prazer numa relação sexual, além de alguns momentos de “filosofismo” raso.
    Eu sou um tanto quanto conservadora sobre certos assuntos. Cada um a seu jeito.
    Isto posto e devidamente esclarecido, vamos ao seu “amável” convite, ou como você mesmo diz, provocação.
    Partimos de pontos diferentes. Onde você vê o sobrenatural, Deus, eu vejo apenas o humano.
    Se para você a bíblia é a mensagem de Deus, para mim ela nada mais é que o argumento instrumentalizado de uma hierarquia humana, obedecendo a costumes e visões mundanas de um período.
    Veja os exemplos que você dá. Estes homens citados eram governantes de sua tribo ou povo. Tendo em conta o período em que viveram de conturbado processo de formação de uma nação, sabemos que foram o que hoje chamamos governantes autoritários. O deus que eles criaram para si ecoava a mentalidade então reinante. Para que haja um governante forte e autoritário, é necessária a existência de um povo fraco, submisso. Salvo engano, não há na bíblia exemplos de “homens do povo” tendo um “particular” com Deus, nos moldes de Abrão, Davi, Moisés, Salomão”. Se houver, por favor, me corrija.
    Sobre Maria Madalena, como você mesmo diz, nada é dito, além de estar possuída por demônios e ter se tornado “colaboradora de ministério de Jesus”.
    O argumento do meu artigo trata da desvalorização do ser humano com o fito de leva-lo à submissão. Quando a bíblia nos apresenta como intrinsecamente maus – e ela faz isso, ou não haveria o argumento do pecado original – ela está dizendo que por nós mesmos, não temos qualquer valor, qualquer capacidade de nos elevarmos de nossa condição.
    Eu discordo dessa visão e procurei levar à reflexão pessoas que porventura sintam desconforto com a mesma.
    Encerro dizendo que considero desnecessário o sarcasmo usado no seu texto para se referir a mim

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    1. Shirlei, não é?
      Em primeiro lugar cito o Pondé exclusivamente em função de sua antropologia, que considero mais realista do que a humanista.

      gostaria de chamar a tua atenção para o fato mais do que claro que não fui apologético em meu texto, mas provocativo. Logo, não parti de Deus para afirmar nada, apenas demonstrei que sua pesquisa não foi de todo fiel ao que a Bíblia de fato diz a respeito do homem.

      Recomendo a você a leitura de Pascal para que você possa entender melhor minhas colocações a respeito da ambiguidade com que o humano é tratado na Bíblia, creio que ele foi muito feliz sim neste aspecto.

      Sobre os homens do povo, duas observações: 1) eles ainda que tenham sido líderes, vieram todos do povo, afinal, Moises não nasceu em Marte, mas no Egito, onde foi criado e educando. 2) Você poderia me mostrar alguém que tenha sido mais povão do que Jesus?

      O problema é justamente este, você discorda da visão, mas não foi feliz quanto aos exemplos selecionados, além da parcialidade visível no seu artigo. E mais, você nega a realidade de forma a parecer viver em um mundo no qual as pessoas não sejam invejosas e nem mesquinhas, ou incapazes de fazer quaisquer males. Infelizmente você não foi feliz, com o perdão pelo sarcasmo que não foi pessoal, mas dirigido ao seu texto. Sei que não posso criticar você, mas o seu texto sim.

      Abraços.

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