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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Lição da EBD n° 12: A reciprocidade do Amor Cristão


Reciprocidade, o mesmo que correspondência mútua de palavras, reciprocidade de sentimentos, de serviços, troca, relação de conformidade ou concordância. Estas são as palavras mais apropriadas para descrever o relacionamento entre o apostolo Paulo e a Igreja de Filipo, isto fica claro na saudação inicial da correspondência do apostolo com a Igreja, em que lemos: em todas as minhas orações em favor de vocês, sempre oro com alegria por causa da cooperação que vocês têm dado ao evangelho, desde o primeiro dia até agora (Fp 1. 4, 5 NVI).
O apóstolo prossegue afirmando: é justo que eu assim me sinta a respeito de todos vocês, uma vez que os tenho em meu coração, pois, quer nas correntes que me prendem quer defendendo e confirmando o evangelho, todos vocês participam comigo da graça de Deus (Fp 1. 7 NVI). Em outras palavras o envolvimento dos filipenses na obra de Paulo fez com que este se sentisse amado, apreciado, pelos irmãos. Neste texto veremos o procedimento de Paulo em sua trajetória ministerial e extrairemos algumas lições para os dias atuais.
 
I) O procedimento de Paulo
 
O apóstolo não tinha como hábito receber sustento das comunidades nas quais ele trabalhou, nem de se locupletar com o Evangelho de Cristo, tornando o mesmo uma fonte de lucro. Em seu discurso de despedida da cidade de Éfeso, ele disse aos anciãos:
Não cobicei a prata nem o ouro nem as roupas de ninguém. Vocês mesmos sabem que estas minhas mãos supriram minhas necessidades e as de meus companheiros. Em tudo o que fiz, mostrei-lhes que mediante trabalho árduo devemos ajudar os fracos, lembrando as palavras do próprio Senhor Jesus, que disse: ‘Há maior felicidade em dar do que em receber (At 20. 33 - 35 NVI). 
O emprego do verbo grego επεθυμεω (epitimeoo), na negativa, indica ausência de desejos imoderados. Fica claro aqui que a vida de Paulo não era norteada pelos seus desejos pessoais, muito menos por qualquer ânsia, ou ambição de honras ou riquezas. Daí que na ausência de sustento ele mesmo tenha procurado sustentar-se. À título de exemplo, poderíamos falar da experiência que Paulo teve em Corinto, por exemplo.
De acordo com a narrativa de Lucas, ao chegar na cidade de Corinto, Paulo foi hospedado na casa de um certo judeu, cujo nome era Áquila. Enquanto esteve com eles, exerceu a profissão de fabricante de tendas (At 18. 2, 3). Levando em conta o contexto podemos afirmar que foi, em primeiro lugar para não colocar obstáculo algum ao evangelho de Cristo (I Co 9. 12 NVI). O texto em apreço deixa claro que é um direito do obreiro ser sustentado, mas do qual Paulo abriu mão, pelas razoes apresentadas.
Em segundo lugar, para livrar-se da tentação de maquiar a palavra de Deus, a fim de a tornar mais palatável e com isto fazer da mesma uma fonte de lucro. Ele mesmo afirma: ao contrário de muitos, não negociamos a palavra de Deus visando lucro (II Co 2. 17 NVI). O verbo καπηλευοω (kapeeleioo), é o mesmo usado para mercadejar, mas também descreve a ação desonesta de comerciantes que misturavam vinho à agua para que este redesse mais, ou para que pudesse se livrar do estoque antigo. É com este termo que Paulo compara a ação dos mestres que o rivalizavam.
Por último, Paulo rejeitou o salario a fim de não ser pesado à ninguém. Escrevendo aos Coríntios ele diz: agora, estou pronto para visitá-los pela terceira vez e não lhes serei um peso, porque o que desejo não são os seus bens, mas vocês mesmos. Além disso, os filhos não devem ajuntar riquezas para os pais, mas os pais para os filhos (II Co 12. 14 NVI).
Prata, ouro e demais roupas eram símbolos de riqueza na antiguidade, esta é a opinião de Vincent, para quem a associação que Cristo faz entre prata, traça e ferrugem, se explica quando entendemos que as vestes, ao lado dos metais eram consideradas como posses valiosas. Fato é que conforme dissemos, Paulo não norteava sua vida por seus desejos.
 
II) O direito ao salário pastoral
 
A decisão de paulina de não viver às expensas dos irmãos foi de caráter estritamente pessoal. Ela não possui fundamento bíblico de acordo com o contexto geral das Escrituras. Este argumento é sustentado por Paulo justamente no capitulo que as pessoas mais empregam para defender o trabalho voluntário do Evangelho, e o fazem sem levar em consideração as seguintes perguntas retoricas que ele faz, bem como as afirmações que ele mesmo faz:
Quem serve como soldado às suas próprias custas? Quem planta uma vinha e não come do seu fruto? Quem apascenta um rebanho e não bebe do seu leite? Não digo isso do ponto de vista meramente humano; a Lei não diz a mesma coisa? Pois está escrito na Lei de Moisés: "Não amordace o boi enquanto ele estiver debulhando o cereal". Por acaso é com bois que Deus está preocupado? Não é certamente por nossa causa que ele o diz? Sim, isso foi escrito em nosso favor. Porque "o lavrador quando ara e o debulhador quando debulha, devem fazê-lo na esperança de participar da colheita". Se entre vocês semeamos coisas espirituais, seria demais colhermos de vocês coisas materiais? Se outros têm direito de ser sustentados por vocês, não o temos nós ainda mais? Mas nós nunca usamos desse direito. Pelo contrário, suportamos tudo para não colocar obstáculo algum ao evangelho de Cristo.  Vocês não sabem que aqueles que trabalham no templo alimentam-se das coisas do templo, e que os que servem diante do altar participam do que é oferecido no altar? Da mesma forma o Senhor ordenou àqueles que pregam o evangelho, que vivam do evangelho (I Co 9. 7 - 14 NVI).
Do texto em apreço extraímos a seguinte verdade: obreiro algum faz a obra exclusivamente com os seus recursos. Da mesma forma que um pregador investe tempo e disposição em seu trabalho, um obreiro do Senhor o faz. Daí que seja mais que legítimo que ele desfrute do seu trabalho. Paulo mesmo admite ter este direito, mas abriu mãos do mesmo a fim de não colocar obstáculo algum ao Evangelho, mas ele sabe que Cristo disse: Não levem nem ouro, nem prata, nem cobre em seus cintos; não levem nenhum saco de viagem, nem túnica extra, nem sandálias, nem bordão; pois o trabalhador é digno do seu sustento (Mt 10. 9, 10 NVI). 
 
III) O procedimento dos filipenses
 
Após sair de Filipo em razão de um conflito com as autoridades face à violação dos seus direitos de cidadania, Paulo se dirige à Tessalônica e depois para Beréia, cidade em que novamente se vê forçado a sair em decorrência de um tumulto com os judeus, sendo que nesta ocasião, Silas e Timóteo permanecem na Macedônia (At 17. 13 - 15).
Chegando em Corinto, Paulo se dedica parcialmente à pregação, dividindo ministério com atividade profissional, no caso a de fabricante de tendas (At 18. 2, 3). É este procedimento que faz com que ele frequentemente se gabe junto aos crentes de corinto de que, a despeito dos seus direitos de ser sustentado, ele voluntariamente abriu mão destes a fim de que não pusesse empecilho algum à causa do Evangelho (I Co 9. 12).
Foi neste período que Silas e Timóteo chegaram da Macedônia, e segundo o relato de Lucas, Paulo se dedicou exclusivamente à pregação, testemunhando aos judeus que Jesus era o Cristo (At 18. 5 NVI). Em sua segunda Carta aos Coríntios Paulo vai fazer o seguinte relato:
Despojei outras igrejas, recebendo delas sustento, a fim de servi-los. Quando estive entre vocês e passei por alguma necessidade, não fui um peso para ninguém; pois os irmãos, quando vieram da Macedônia, supriram aquilo de que eu necessitava. Fiz tudo para não ser pesado a vocês, e continuarei a agir assim (II Co 11. 8, 9 NVI). 
Segue-se daí que a ajuda dos macedônios chegou quando Timóteo e Silas vieram da região, conforme vemos no relato de Atos. Daí o fato de Paulo empregar a palavra κοινωνια (koinonia), para se referir à parceria existente entre ele e os irmãos de Filipo.
 
IV) As lições
 
Atentemos agora para o texto:
Alegro-me grandemente no Senhor, porque finalmente vocês renovaram o seu interesse por mim. De fato, vocês já se interessavam, mas não tinham oportunidade para demonstrá-lo.  Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece (Fp 4. 10 - 13 NVI). 
Aqui percebemos que Paulo valoriza as ofertas dos irmãos, mas afirma saber estar nas situações mais adversas, sustentado pela força do Senhor, e tudo graças à αυταρκης (autarkes), palavra cujo sentido é suficiência, satisfação em si mesmo. Esta mesma palavra aparece na exortação que Paulo faz ao seu filho na fé a respeito de pessoas que não querem se sujeitar à singeleza do Evangelho, porque vem na piedade uma fonte de lucro.
Para o apóstolo, a piedade com contentamento é grande fonte de lucro (I Tm 6. 6 NVI). O termo para contentamento aqui é αυταρκειας (autarkeias), bem similar a αυταρκης (autarkes), e provavelmente a fonte da palavra autarquia, termo este que tem entre as possíveis definições a de regime econômico de um Estado que procura bastar-se a si mesmo. Em Cristo nos podemos bastar a nós mesmos.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

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