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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Afinal, é pecado, ou nao é?

 

O livro É Proibido, de Ricardo Gondim, foi um marco no tocante à demarcação entre doutrina e costumes. Na referida obra tivemos um rico esclarecimento a respeito de muitas proibições feitas pela Igreja, mas que não possuíam respaldo na Bíblia Sagrada. De igual importância foi o capitulo no qual o autor em apreço dedicou à música. Ali vimos, pela primeira vez, músicas populares brasileiras sendo analisadas à luz da cultura e sem nenhuma marca de diabolização.
Se compararmos a história americana, com a brasileira, constataremos que na América a Igreja absorveu a cultura negra, e isto de forma que os grandes movimentos musicais negros surgiram dentro da Igreja, consequentemente, boa parte dos cantores americanos vieram do movimento gospel. No Brasil, a cultura negra se associou à religião oficial em nosso país, e como resultado do sincretismo as expressões culturais produzidas pelos negros se associou aos cultos de matiz africana. O resultado? A marginalização de toda produção cultural decorrente da cultura afro. Em decorrência de tal estigma, toda música que não é Gospel, é pecado. Mas isto é verdade? Não, de forma alguma!
Descreio que seja pecado ouvir um maravilhoso solo de guitarra de Eric Clapton, Marc Knopfler, ou de George Benson. Não creio que seja uma transgressão mortal ouvir um maravilhoso solo de violão do Baden Powell, ou do Toquinho, muito menos o solo de acordeão do Sivuca, e do Dominguinhos, para não falar do imortal Altamiro Carrilho. E o que dizer de uma vozes tão maravilhosas como a Rick Aschley, Louis Armstrong, Altemar Dutra, Agnaldo Timóteo, Elis Regina, Jerry Adriani, Agnaldo Rayol, cada uma no seu estilo, é claro. Pecado é não saber apreciar a beleza da arte.
Apreciar, verbo cujo sentido é o de avaliar, julgar, estimar, considerar. O fato de saber apreciar não quer dizer que goste de Biquíni Cavadão, por exemplo, embora considere tédio o ápice da psicanalise e o retrato fiel de nossa geração, que possui acesso a toda forma de bem de consumo, mas que não sai do tédio. É justamente por saber apreciar tenho de valorizar o conteúdo político das letras do Legião Urbana e dos Engenheiros do Havaí.
Outro aspecto a ser considerado neste caso, é o da graça comum. Nesta percebemos que toda produção cultural humana, estando ou não, à serviço do Evangelho, é fruto de uma graça, afinal, a capacidade humana, a inteligência, a razão, bem como os recursos procedem de Deus e o homem, tal como ocorre na semeadura e na colheita trabalha a partir dos materiais que lhe fora concedido, dado. Se é concessão, logo, é graça.
Tanto a graça comum, quanto a Imago Dei, se podem ver nas letras de denuncia das mazelas sociais feitas por Herbert Viana, e Cazuza; quanto nos dilemas existenciais cantados por Renato Russo. Deixar de observar tais aspectos é o que há de mais triste no meio evangélico. Talvez isto se dê em razão do que J. J de Morais falou em seu livro "O que é música?", da coleção primeiros passos. As pessoas, afirma o autor, ouvem a musica, ou de forma sensitiva (apelo aos sentidos), ou de forma emocional. Em ambos os casos a audição musical não é um fim em si mesma, mas um meio para uma roda de bar, uma cerveja, ao namoro, um tórrido caso de amor, etc... Daí que a audição fique associada a estas experiências.
Assim, muitas pessoas associam as músicas que ouviam no tempo em que não eram cristãs com o modus vivendis da época. Ao se tornarem cristãs associam-nas ao modo de vida de outrora, o que produz uma rejeição psicológica. Então qualquer texto bíblico vira motivo para que as pessoas possam vir a fundamentar suas opiniões.
O trabalho de desconstrução, neste caso, não é tão fácil, porque a questão não se prende à esfera intelectual, ou racional somente, mas avança para o emocional, para a subjetividade. E o grande fato é que a música tem o poder de nos fazer reviver determinados momentos de nossa vida. Talvez a recusa seja para com estes momentos. Cabe ressaltar que nossa experiência subjetiva não pode, em hipótese alguma, vir a ser matéria para doutrina, cuja fonte é a Bíblia. Assim, aqui vale a regra: "quem ouve, não julgue que, não ouve, e quem não ouve, não julgue o que ouve".

Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros


4 comentários:

  1. Bravo! Belíssimo artigo. Penso da mesma forma. Longe de mim deixar de apreciar um talento na guitarra ou na bateria, um talento na composição e na melodia só porque acham que é do Diabo. A música pertence a Deus! Os que a distorcem são merecedores de oração e da graça de Deus para que sejam alcançados, mas o talento não pode ser discutido.

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  2. Sem contar o fato de que muitos dos hinos que são cantados em nossas igrejas são versões de músicas seculares. Exemplo disso é "My way", imortalizada por Frank Sinatra

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    1. Para não falar em ponte sobre aguas turvas, cuja versão original é com a dupla Simon e Garfunkel.

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