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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A Sabedoria de Deus para uma vida vitoriosa



A nossa próxima lição de Escola Bíblica Dominical tem por título: A sabedoria de Deus para uma vida vitoriosa, como subtítulo, traz a atualidade de Provérbios e Eclesiastes. Diante das informações básicas contidas na capa, o leitor pode indagar: em que sentido um texto escrito há mais de dois mil e quinhentos anos pode ser atual? Pode a sabedoria de um povo do período pré-científico ajudar homens do período moderno, afinal, estamos em um era de alto desenvolvimento científico e tecnológico, experimentamos bens de consumo, que aqueles povos jamais sonhariam? Creio firmemente que uma resposta no mínimo satisfatória englobaria uma abordagem das seguintes questões:
1) O caráter perene da Palavra de Deus enquanto escrito inspirado.
2) A necessária distinção entre ciência e sabedoria.
3) O necessário reconhecimento de que o fato de vivermos em um período permeado pela ciência e pela técnica não nos torna mais sábios do que os povos antigos.
4) O desenvolvimento cientifico não torna a nossa vida melhor do que a daqueles povos.
5) Nem a fruição de bens de consumo nos torna mais felizes e satisfeitos.
Por incrível que pareça é justamente nestes pontos que reside a mensagem dos dois livros que estaremos estudando no trimestre que vem.
 
I ) O caráter perene da Palavra de Deus enquanto escrito inspirado
 
Esta não é uma afirmação de cunho científico, a base da mesma é a própria Bíblia, que diz a respeito de si própria: Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra (II Tm 3. 16, 17 NVI). Por meio deste texto, observamos a inspiração do texto, e a finalidade do mesmo fazer com que  o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.
Ao olharmos para Provérbios e Eclesiastes, é justamente isto que vemos, instruções para que o homem venha a trilhar o caminho da justiça, ao menos este é um dos objetivos que o autor do livro apresenta para a coletânea dos provérbios, dar, ao leitor, a instrução do entendimento, a justiça, o juízo e a equidade (Pv 1. 3 ARCF). Mas somente quando Deus dá a sabedoria, que a justiça é acessível aos homens (Pv 2. 1 - 9).
Provérbios é um escrito que constantemente reivindica autoridade por meio da expressão: ouve. Assim no primeiro capitulo observa-se: Escuta, meu filho a disciplina do teu pai, não desprezes a instrução de tua mãe (Pv 1. 8 Bíblia de Jerusalém). Um dos motivos para o ouvir é a qualidade da sabedoria que o autor vindica para si. Escutai, filhos, a instrução do pai, ficai atentos para conhecerdes a inteligência; eu vos dou boa doutrina, não abandoneis minha instrução (Pv 4. 1, 2 Bíblia de Jerusalém).
Mais do ouvir, o autor apela para que se preste atenção. Meu filho, presta atenção à minha sabedoria, dá ouvidos ao meu entendimento (Pv 5. 1 Bíblia de Jerusalém). O ouvir aqui possui uma dimensão superior ao mero escutar, ou à mera percepção sensorial. Ouvir, é atender, obedecer, sendo este o real sentido da expressão hebraica שְׁמַ֖ע (shemai). Mas ao que tudo indica, o ouvir é uma característica exclusiva dos sábios. Afinal, o texto mesmo diz: O sábio ouvirá e crescerá em conhecimento, e o entendido adquirirá sábios conselhos (Pv 1. 5 ARCF). Mas quem é o sábio? É justamente aqui que se torna necessária a distinção entre sabedoria e ciência.
 
II) A necessária distinção entre ciência e sabedoria
 
De acordo com o Aurelio on line, a ciência é: . Conjunto organizado de conhecimentos relativos a certas categorias de fatos ou fenômenos. (Toda ciência, para definir-se como tal, deve necessariamente recortar, no real, seu objeto próprio, assim como definir as bases de uma metodologia específica: ciências físicas e naturais, [por exemplo, a historia, tem como objeto a ação humana no tempo, a Geografia, as relações do homem com o espaço terrestre, etc..].) Conjunto de conhecimentos humanos a respeito da natureza, da sociedade e do pensamento, adquiridos através do desvendamento das leis objetivas que regem os fenômenos e sua explicação.
No livro O que é Religião, Rubem Alves afirma que a ciência é um tipo de conhecimento pragmático que surgiu como resposta às demandas de um período histórico específico. De acordo com o filósofo Francis Bacon, o objetivo da empreitada cientifica é ode tornar a vida humana mais fácil. Como? Mediante a explicação dos fenômenos naturais e o consequente domínio da natureza. No entanto, as invenções e o desenrolar da historia nos mostram que tornar a vida mais fácil é bem diferente de torna-la melhor, e creio ser justamente aí que entra a sabedoria.
Retornando ao vulgo pai dos burros, agora na versão on line, encontro a seguinte definição de sabedoria: aplicação inteligente (aqui leia-se hábil) dos conhecimentos, conduta orientada de acordo com o conhecimento daquilo que é verdadeiro e justo. Grande circunspeção e prudência; juízo, bom senso, razão, retidão. Discernimento adquirido pelas experiências de uma longa vida, e é justamente neste ponto do nosso estudo que se faz necessário reconhecer que o fato de vivermos em um período permeado pela ciência e pela técnica não nos torna mais sábios do que os povos antigos.
 
III) O necessário reconhecimento de que o fato de vivermos em um período permeado pela ciência e pela técnica não nos torna mais sábios do que os povos antigos

Aqui é preciso esclarecer que temos sim mais ciência, ou melhor maior produção cientifica, isto é fato! A Bíblia nada fala de química, física, biologia, astronomia, por exemplo; e a grande é que as poucas incursões que os autores dos salmos fazem na área em nada se pode comparar com as elucubrações dos cientistas modernos. Caio Prado Junior afirma que nem as especulações dos filósofos pré-socráticos  pode ser equiparada ao trabalho de um cientista moderno, visto que aqueles buscavam apenas responder como seria possível ao homem, que imerso em uma realidade tão diversa, conhecer a mesma.
Também precisamos reconhecer que a ciência produziu um modus vivendis, sem o qual a nossa sobrevivência seria impossível, ou no mínimo demasiadamente complicada. Eu, por exemplo, não consigo mais me imaginar sem um celular que me permita comunicar com minha mulher na hora em que pretendo. Não me imagino mais escrevendo à mão em folhas de papel computador. Mas isto significa que somos mais sábios? De forma alguma!
A sabedoria não está no quanto produzimos de ciência, ou de bens de consumo, mas em como aproveitamos e aplicamos nossa produção intelectual à nossa existência real e concreta. Como observa Peter Kreuff, a despeito do progresso que temos, existe muito descontentamento em nossa literatura, usamos carros, e com estes abrimos mãos do prazer de uma caminhada para economizar tempo que não usamos para nada, além de mata-lo.
É com esta sabedoria que Eclesiastes se preocupa. A vida de nada adianta, se o homem não frui dela o seu melhor, e fruir o melhor da vida nada mais é do que aproveitar os dons que Deus nos concedeu a fim de viver. O sentido de dom aqui é o de dadiva. As dádivas vão desde o vinho, até o prazer da companhia do cônjuge (Ec 9. 7 - 9), bem como o tempo de vida que temos, e que pode ser aproveitado para que haja investimento (Ec 9. 10).

IV) O desenvolvimento cientifico não torna a nossa vida melhor do que a daqueles povos

Não basta viver em uma sociedade moldada pela ciência. Esta pode ser utilizada tanto para cura, quando para destruição em massa. O iluminismo trouxe uma onde imensa de otimismo em relação á ciência moderna, mas as duas guerras do século XX jogaram este otimismo por terra. Trocamos sofrimentos antigos por novas formas de sofrimento, e tudo, porque seja na Jerusalém do século IX a. C. , seja na América, ou no Brasil do século XXI d. C, a verdade é que a vida é vaidade, fugaz, passageira, frágil, e absurda.
Mesmo dispondo tamanho desenvolvimento, corremos o sério risco de aproveitarmos a vida bem menos do que os antigos a aproveitaram. A arte do bem viver demanda sabedoria acima de qualquer coisa. Se não dispomos da habilidade necessária para aplicar as descobertas da ciência moderna, de nada adianta. Um ponto no qual esta questão se mostra nevrálgica, é a questão do mundo do trabalho.
Nas Escrituras, este é apontado como sendo a fonte de sustento do homem (Gn 3. 19; Sl 104. 23; 128. 1, 2). A perspectiva de Provérbios, a respeito da atividade laborativa é positiva. Em todo trabalho há proveito, mas ficar só em palavras leva à pobreza (Pv 14. 23 ARCF). E isto, ao ponto de acreditar que todo o seu trabalho terá uma recompensa. Viste o homem diligente na sua obra? Perante reis será posto; não permanecerá entre os de posição inferior (Pv 22. 29 ARCF). Mas a perspectiva do pregador não é das melhores. Para este o trabalho é um castigo que Deus dá ao pecador, é algo odioso, enfadonho e nada gratificante. A gratificação do mesmo está não no labor em si, mas nos resultados que este traz (Ec 2. 16 - 26).
Neste ponto a fala do pregador me lembra a de Mário Sérgio Cortella, para quem o trabalho é fundamental, mas não essencial. Em filosofia, essência, tem a ver com o ser, o que nos leva concluir, que por mais digno que seja o trabalho, o ser humano não se define a partir do mesmo. O trabalho é digno não por si mesmo, mas pelo que ele traz para nós. Reconhecimento, sustento. Mas o pregador, percebe que nem sempre o reconhecimento vem (Ec 9. 11), e que o apetite nunca cessa (Ec 6. 7). Daí, a saída que o pregador propõe, é esta: que o homem se alegre no seu trabalho, e desfrute do mesmo.
Então louvei eu a alegria, porquanto para o homem nada há melhor debaixo do sol do que comer, beber e alegrar-se; porque isso o acompanhará no seu trabalho nos dias da sua vida que Deus lhe dá debaixo do sol (Ec 8. 15 ARCF). Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias da tua vida vã, os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vaidade; porque esta é a tua porção nesta vida, e no teu trabalho, que tu fizeste debaixo do sol (Ec 9. 9 ARCF). Mas como aplicar esta sabedoria nos dias atuais?
Primeiro, precisamos entender que o trabalho é fundamental, visto que sem o mesmo não sustentamos e muito menos acessamos os bens de consumo dos quais necessitamos para a nossa subsistência. O trabalho não é essencial visto que ele não nos melhora enquanto pessoa. Terceiro, o trabalho foi feito para que desfrutássemos do prazer, mas se o apetite não for moderado, ele estabelece um circulo vicioso em que vamos trabalhado, e nos esgotando cada vez, produzindo perda de vitalidade e transformando a nossa vida em um verdadeiro buraco negro. Por último, a alegria do viver está nas coisas mais básicas da vida, mesmo as mais corriqueiras. Mas esta é apenas uma reflexão inicial.
Creio que o nosso modo de produção também precisa mudar. A ciência, repito, foi formulada para que o homem vencesse o temor da natureza e uma vez explicando-a por categorias racionais, este viesse a trabalhar em seu favor, e com isto a vida se tornasse mais fácil. Oscar Wilde percebeu que tal promessa não se cumpriu e mais, em livro que tem por título: A Alma do homem sob o Espírito do Socialismo, propôs que as maquinas fossem escravas do homem, para que este viesse a desenvolver a sua máxima potencialidade. ISTO É SABEDORIA, A APLICAÇÃO HÁBIL DOS RECURSOS PARA UMA VIDA MELHOR.

V) A simples fruição de bens de consumo não nos torna mais felizes e satisfeitos

Pode ser que fruir bens de consumo nos torne mais tediosos, do que alegres, satisfeitos e gratos em relação à vida. Este tédio pode ser visto no romance as Cidades e as Serras, de Eça de Queirós. Neste o personagem Jacinto que vive no contexto da cidade, e por este motivo possui acesso aos bens de consumo, demonstra grande tedio face à rotina, ao passo que Zé Fernandes, que vem do campo, tudo é maravilhoso, inclusive o tédio que Jacinto demonstra diante da vida.
Em uma palestra intitulada Nós não nascemos prontos, Mario Sérgio Cortella afirma que está faltando espanto. Andamos de avião, em uma velocidade extraordinária, viajamos para partes do mundo, antes inacessíveis, e, a despeito de tudo isto, estamos em meio a uma geração que reage de forma, no mínimo apática a isto tudo. E o pior ainda está por vir, a apatia é a regra de conduta social em nossa sociedade. Demonstrar felicidade em viajar de avião é brega.
Chesterton observa que a vitalidade tem a ver com a repetição constante. Uma criança demonstra a energia vital dela em repetir a mesma brincadeira, o mesmo filme. O autor chega a brincar dizendo que talvez Deus seja como uma criança, o que não é absurdo se observarmos que ele não sofre a ação do tempo, por viver na eternidade. Isto explica o ciclo constante que ele imprimiu na natureza e que o pregador tão bem fala (Ec 1. 4 - 11).
Para o pregador tanto a adolescência quanto a juventude são vaidade, daí que o melhor de nossa vida tenha de ser devidamente desfrutado. Como? Vivendo o prazer em sua plenitude (Ec 11. 7 - 9) e lembrando-se, ainda nos dias da mocidade, que há um criador (Ec 12. 1 - 8). Mas em que a lembrança do criador nos proporciona uma vida mais feliz.
Primeiro, esta é a constatação do pregador. Em um mudo em que tudo é vaidade, e que a justiça tem de ser equilibrada com a consciência de que não há homem justo que faça o bem e nunca peque (Ec 7. 14 - 20), a melhor vida é a que conciliar o entendimento de que Deus é a fonte máxima do prazer, da alegria, da satisfação (Ec 2. 26), sabendo que a busca pelo prazer tem de ser conciliada com a busca por Deus, a fonte suprema do mesmo.
É justamente quando o foco é retirado do criador, ou do Absoluto, que tudo o que poderia contribuir para uma vida de espanto e fascinação diante da beleza da criação se transforma em tédio. À semelhança do personagem Jacinto, das Cidades e as Serras, explicamos tudo, tudo mesmo. Mas caímos no erro de achar que somente o contexto em que vivemos é a realização da civilização, quando a verdade não é esta.
A necessidade de tudo explicar nos retirou a nossa humildade, a consciência clara de nossa ignorância, e a sensação de espanto, e com a mesma, a alegria de viver. Minha oração sincera é que este trimestre de estudo, e os posts que aqui serão publicados em decorrência do mesmo, sejam vacina contra estes males, afinal, esta é a sabedoria de Provérbios e Eclesiastes.

Pr Marcelo Medeiros.

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