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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Einstein se tornou ateu?



Estava em meio a uma pesquisa a fim de levantar dados bibliográficos para o meu trabalho de conclusão de curso. Em meio a esta árdua tarefa, resolvi pesquisar no google o seguinte tema: ciência e religião em Paul Tillich. Foi quando me deparei com um artigo (Einstein se tornou ateu?) em um blog (Deus, Ciência e Religião), cujo teor básico era que Einstein se tornou ateu na medida em que amadureceu intelectualmente. Para comprovar a sua tese ao autor usa citações de um livro cujo titulo é Como Vejo o mundo, e as compara com uma carta enviada a um filósofo. O primeiro texto é na verdade uma serie de vários textos reunindo cartas, palestras, aulas, de forma a tentar reunir os pensamentos de Einstein a respeito dos mais diversos temas, dentre os quais a religião. O segundo texto nada mais do que uma redundância das ideias apresentadas no primeiro. Mas nosso amigo blogueiro as usa de forma no mínimo desonesta, uma vez que força as fontes de forma que elas se ajustem ao pensamento dele. Como cheguei a esta conclusão? Simples baixando o livro como Vejo o Mundo em pdf e não satisfeito, comprando a versão de bolso da Saraiva. Lendo o livro em apreço observei que:
 
1) Einstein nunca creu no Deus judaico cristão,
 

Não posso imaginar um Deus a recompensar e a castigar o objeto de sua criação. Não posso fazer ideia de um ser que sobreviva à morte do corpo. Se semelhantes ideias germinam em um espírito, para mim é ele um fraco, medroso e estupidamente egoísta.

 
coadunando com o espirito de sua época ele considera a crença em um Deus pessoal como demonstração de alguma forma de fraqueza.
 
2) Rejeitava um conceito antropomórfico de Deus
 
Ora, os gênios-religiosos de todos os tempos se distinguiram por esta religiosidade ante o cosmos. Ela não tem dogmas nem Deus concebido à imagem do homem, portanto nenhuma Igreja ensina a religião cósmica. Temos também a impressão de que os hereges de todos os tempos da história humana se nutriam com esta forma superior de religião. Contudo, seus contemporâneos muitas vezes os tinham por suspeitos de ateísmo, e às vezes, também, de santidade. Considerados deste ponto de vista, homens como Demócrito, Francisco de Assis, Spinoza se assemelham profundamente.
 
Ora a defesa de Einstein era a de um religiosidade cósmica, para ele ser religioso, era estar à serviço da vida, e tão somente desta. Tanto que, na visão deste, o lado proveitoso da religiosidade bíblica eram os louvores da criação nos salmos, e a Ética dos profetas. Para Einstein se  cristianismo e judaísmo se depurassem, respectivamente dos comentários dos padres e do Talmude. a religiosidade cósmica não apresenta um conceito antropomórfico de Deus, na verdade não possui conceito algum, o que fazia com que sua transmissão se tornasse inviável, tanto que ele mesmo pergunta: Como poderá comunicar-se de homem a homem esta religiosidade, uma vez que não pode chegar a nenhum conceito determinado de Deus, a nenhuma teologia? Face às colocações concluo que:
 
3) Einstein não era ateu
 
O Ateísmo é definido como sendo: um sistema cuja marca principal é a convicção de que Deus não existe. Não percebo esta convicção em Einstein, o que percebo é que no lugar de uma divindade pessoal, ele adora uma divindade que se confunde com o cosmos, que não pode ser traduzida teologicamente, e celebra uma religião que se expressa no espanto diante da natureza, que consiste em
 
espantar-se, em extasiar-se diante da harmonia das leis da natureza, revelando uma inteligência tão superior que todos os pensamentos humanos e todo seu engenho não podem desvendar, diante dela, a não ser seu nada irrisório.
 
Para Einstein este espírito científico, fortemente armado com seu método, não existe sem a religiosidade cósmica. Ou seja, de certa forma o fazer ciência advém da mesma matriz do vivenciar a experiência do sagrado, que é o espanto diante do mundo, visto que este sentimento se compara àquele que animou os espíritos criadores religiosos em todos os tempos.
Encerro este posto afirmando que Paul Tillich entendia que ao abolir o conceito pessoal de Deus Einstein prestou um grande serviço à fé, visto que possibilitou pensar a religião não como um sistema de crenças institucionalmente elaboradas, mas como algo que nos toca incondicionalmente. Tanto em Einstein quando na Teologia de Tillich, o deus judaico cristão é subsistido pelo Absoluto (uma categoria da Filosofia de Schelling, para quem o absoluto se fazia presente em cada e toda coisa). 
Muita coisa pode ser dita a respeito das citações, mas encerro aqui por considerar ter conseguido demonstrar que Einstein jamais fora ateu e também não foi aquilo que podemos chamar de cristão, na verdade, sequer foi religioso no sentido institucional do termo. Ele se distingue dos cristãos por não crer em um "deus pessoal", a julgar pela sua fala ele rejeitava claramente a ideia de um juízo final. De igual modo, ao contrario dos ateus, ele claramente julga necessário um tipo de religiosidade cósmica. Einstein sabe que sua dedicação à ciência é uma forma secularizada de religião, o que muitos ateus ignoram. Desta forma, tentar cooptar ele seja para o flanco ateísta, seja para o flanco cristão, é o mesmo que entrar na brincadeira infantil do "o meu é maior e melhor", pura infantilidade.
 
Pr Marcelo Medeiros
 
 

 

4 comentários:

  1. Boa noite Pr. Medeiros! Fico lisonjeado por ter citado nosso humilde espaço ateu em seu belíssimo blog. Embora não concorde plenamente com sua postagem, não posso deixar de observar sua objetividade e equilíbrio vistas em tão poucos artigos crentes ou ateus sobre o assunto. Felicidades!

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  2. Grato pelo reconhecimento, que creio ser imparcial e fique à vontade. Estou aberto às ideias. Abraços.

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  3. Apesar de Einstein não aceitar diretamente o Deus judaico-cristão, ele fez várias declarações Teístas remetendo a um Criador Originador Inteligente como Causa para a complexidade, harmonia e beleza do universo e da vida:

    "Deus não joga dados no universo."
    "A ciência sem religião é manca, a religião sem a ciência é cega"
    "Deus é a lei e o legislador do Universo. Sem Deus, o universo não é explicável satisfatoriamente."
    “A harmonia da lei natural revela uma inteligência de tão magna superioridade, que em comparação a ela, todo pensamento e ação sistemático dos humanos é absolutamente insignificante”. - Einstein.

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  4. Cícero, MEUS SINCEROS AGRADECIMENTOS PELO SEU COMETÁRIO EM MEU POST. GOSTARIA APENAS DE LEMJBRAR QUE, conforme postei, Einstein é ardoroso defensor de uma religiosidade cósmica, onde Deus, é similar ao Absoluto, e nada pode ser dito a respeito do mesmo. No demais, grato pelas suas considerações. Abraços e até nosso próximo post.

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